Acabei de provar a pior iguaria da vida, fornecida
gratuitamente por um chinês que se autodenominou King. Trata-se de um pacotinho
de plástico lacrado no qual o conteúdo é uma língua de pato, cujo cheiro lembra
um doce e o gosto lembra um bidê. Delícia, não deu nem pra engolir.
Hoje foi o encerramento das aulas de Direitos Humanos
no St. Thomas, porque já peguei o projeto quase no final por lá. Agora começo
numa escola nova a partir de sexta-feira que vem. E foi neste último dia de
avaliações, testes e conclusões que temi pela absorção das lições dadas e da prática
dos Direitos Humanos pela rapaziada do colégio.
Enquanto esperava na sala dos professores, fui
surpreendido pelo chamado de um professor (Jacobo) a um aluno que estava do
lado de fora, olhando pra dentro da sala. Quando o diálogo entre os dois
acabou, Jacob pegou uma tábua de madeira e sentou a madeirada na bunda do
rapaz, duas vezes. Quando acabou, o menino agradeceu e pediu pra se retirar.
Sala dos Professores |
Apesar de estar ali pelos Direitos Humanos, confesso
que fiquei na dúvida entre intervir (e talvez extrapolar as barreiras dos meus
objetivos ali frente aos comandos do professor) ou ficar quieto assistindo
aquela cena inimaginável. Optei pelo silêncio, embora tenha me arrependido
depois. De repente a atitude de “salvar” o menino de uma surra de madeira teria
dado a ele mais aprendizados do que algumas aulas de Direitos Humanos.
Perplexo, fiquei pensando como ainda existia esse
tipo de tratamento dentro de um ambiente escolar em 2013, no qual os alunos são
punidos por terem feito rigorosamente nada. Não bastasse a bronca da professora
(que já relatei), os alunos ainda eram submetidos a um regime supramilitar de obediência, enquanto Jacobo saciava seu sadismo.
Another Brick in the Wall |
Achando que não veria aquela cena de novo, ainda pude
conferir de canto de olho um dos melhores alunos tomando paulada por ter me ajudado
a traduzir pro suaíle as instruções dadas por mim, tendo que ficar em pé na
sala durante os meus dizeres. Infelizmente, quando vi já era tarde demais e os
olhos do Khassim (aluno) já estavam vermelhos de vergonha (ou seria raiva?).
De todo o dia de hoje, o que me deixou muito feliz
foi a gratidão dos alunos pelas aulas dadas e o sonho de vários deles de se
tornarem médicos, advogados e profissionais de outras grandes áreas do
conhecimento. Se falta papel pra anotar a lição (muitos não tem caderno e
anotam em folhas velhas de jornal), sobra disposição pra correr atrás do
objetivo, pelo menos pra aqueles alunos mais dedicados e interessados.
Pra variar um pouco, higiene/água:
A água aqui é sempre engarrafada. Não existe água
potável saindo da torneirinha limpinha. Então em muitos lugares vende-se água
em galão de três ou cinco litros, garrafinhas menores e de todo o jeito.
Acontece que na rua os ambulantes vendem aquela água batizada, com a garrafa
vazia levada até qualquer bica muito suja pra encher.
Pra escovar os dentes e lavar a roupa e a louça,
é mais tranquilo usar a água que sai da torneira, mas ainda assim não é
recomendável. O resto todo é proveniente de água engarrafada. Se um litro de água
custa 0,30 centavos de dólar, o refrigerante sai na média de 0,50 centavos a
garrafa de 500ml, o que se torna uma opção mais “segura” nas ruas. E sempre
quente, já que não dá pra confiar na geladeira pelas recorrentes quedas de luz.