Alguém estava seriamente me testando hoje. Demorei duas
horas e meia pra chegar ao colégio e quatro horas pra voltar. A refeição foi Corn Flakes às oito da manhã e macarrão
de novo só às nove da noite. Claro que ficou horrível já que estou sem luz. E pra
fechar o dia, ainda teríamos uma adaptação ao ditado: apressado queima o dedo.
Descobri ontem à noite que as chinesas da casa, Jane,
Sheryl, Sissy, outra Sissy e muitas outras que não sei o nome, na verdade inventam
nomes “americanos” pra que todos possam chamá-las e gravar suas novas
identidades. Imagina que loucura seria chegar na China e inventar um nome novo
pra você. Quando perguntei pra Jane da onde ela tinha tirado seu nome, ela
disse que escolheu porque achava bonitinho. Justo, justo. Mas a Sheryl tá
caprichando no mau gosto.
Outra esquisitice que ocorreu foi a seguinte: uma
senhora vestindo burca do meu lado no Dela-Dela, daquelas que cobrem tudo e só
deixam os olhos de fora (muito comum por aqui, já que o país é muçulmano)
estava com um bebê de colo no transporte. Assim que o bebê começou a chorar, a cidadã
prontamente puxou seu seio esquerdo pra fora da burca no ímpeto de amamentar o
rebento. Quer dizer que olhar a cara não pode, mas botar o mamilo pra jogo tá tudo
certo? Aceito conclusões.
A paixão tanzaniana é o fute-bola, mas infelizmente a
preferência nacional é a Liga Inglesa, decorrência da breve passagem
colonizadora dos amigos da rainha Elizabeth. Ainda é com extremo pesar que digo
aos camaradas brazucas que eles só conhecem dois times do Brasil: Flamengo e
Corinthians. Tenho certeza é questão de tempo até que venham a conhecer todos os outros, com os olhares na Copa do Mundo.
Pelos últimos dias, ainda encontrei com dois
educadores com estilos muito diferentes durante o trajeto pelo Dela-Dela. Um
deles espalhando panfletos sobre a importância da educação aos jovens, na
tentativa de alertar pais e tios sobre o incentivo necessário. O outro apenas
puxou o assunto ao meu lado e me lembrou de comentar algo gritante e
fundamental daqui.
Ontem falei um pouco de educação, mas muito
pouco pro tamanho do assunto:
A Tanzânia atravessa uma crise educacional neste
momento. Os alunos prestaram o exame nacional de avaliação e 60% tirou zero. Ou
seja, mais da metade do país não sabe nada sobre a matéria de qualquer assunto.
Não foi protesto estudantil, como me garantiu o amigo do ônibus, mas simples
ignorância e falta de estabelecimento de diretrizes por parte do Ministério da
Educação (existente sim).
Ademais, foi constatado um rombo de 1,6 bilhões
de Shillings (100 milhões de dólares) na verba destinada à educação. Isso
representa 10% do PIB, pelo dado obtido através deste sujeito, que acabou declarando
sua participação na oposição política ao regime atual. Dar aula de Direitos
Humanos se provou ainda mais importante missão.
O manto faz milagres, meu camarada !
ResponderExcluirMeu amigo, primeiro que nada mais do que esperado num país africano, ter o conhecimento somente do "Framengo" e do Corinthians... como você mesmo falou FALTA EDUCAÇÃO!!!!
ResponderExcluirAgora sério, é realmente surreal está estatística de 60% tirar zero num exame nacional. Parece que o país está ainda na idade das pedras e que meia dúzia descobriu como fazer fogo!!!