domingo, 2 de junho de 2013

Run, Forrest


Depois de ter ido dormir forçado pela falta de eletricidade (normal) acordei na paz da casa vazia e lancei pra dentro um cereal pela primeira vez. Como é minha última semana, resolvi investir meus últimos shillings numa caixa de sucrilhos. Na preguiça de ferver o leite, foi puro mesmo. Sem problemas, os acontecimentos que me aguardavam se resumiriam a engolir grãos de arroz a seco.

Tirar dinheiro pra Childrock faz parte do cotidiano. Principalmente com o objetivo de juntar dinheiro suficiente no bolso pra bancar a propriedade do colégio amanhã. E aí cinco camaradas resolveram fazer o dia deles em cima do Mzungu que passava pelo local. Andando de volta pra residência, resolveram me emboscar. Pra cima de mim, malandragem? Aí não.

É comum ver umas “gangues” dando volta com bastões na mão. Só ficar ligado e passar de fininho que ninguém mexe contigo. Domingo e com o lugar isolado é diferente. No que eu passei, os cavaleiros do mau levantaram e vieram atrás. Atravessei a rua. Só um deles atravessou também e ficou na minha frente, andando na mesma direção que eu.

Provavelmente esse fera braba iria dar meia volta e me segurar enquanto os outros vinham pelas costas. Quando percebi todos eles se posicionando atrás de moi pro abate do suposto “trouxa”, a intuição falou “corre” e foi prontamente obedecida. Abri pela direita do amiguinho na minha frente e brinquei de Usain Bolt. Pernas pra que te quero.

Dois vieram atrás de mim, mas Flash combinado com papa-léguas deixou um rastro de poeira na cara dos inimigos que logo desistiram. Assim que fiz a curva e perdi os sujeitos de vista, parei de correr e fiquei andando rápido. Malandro é o cavalo-marinho, que se faz de peixe pra não puxar carroça. Vamos fazer um acordo: eu não piso em seu terreno e você não pisa no meu (sempre Bezerra).

Sem almoço, fui cozinhar. Eu sou tão bom em cozinhar como o Jamie Oliver é em fazer malabarismo. E digo isso na esperança de que Jamie Oliver não saiba nem jogar um limão pro alto com as mãos. Descobri, com uma mãozinha da gravidade, que a bancada da cozinha é irregular. Foi só apoiar quatro ovos pra brincar de matemática. Tinham quatro ovos na bancada, dois rolaram pro chão e fizeram uma cagada monstruosa, quantos sobraram?

Sou tão profissional na arte da culinária que estou quase certo acerca da podridão dos ovos, mas na incerteza (e fome), acabei degustando dessa delícia. O gosto estava até razoável, mas as consequências foram dignas de arrependimento. Ai, minha barriga. Uma banana de “sobremesa” e o resto do dia com a cara verde de enjoo. Tá valendo, xá pra lá.

Amanhã é dia grande! Investimento de 380.000 shillings na aquisição do terreno. A digníssima dona do terreno comparecerá ao colégio e de lá vamos ao registro dos documentos. A propriedade fica em nome da Childrock mesmo, pra não ter perigo de que algum administrador surte e queria alienar o digníssimo pedaço de terra. Que marravilha, tipo Troisgros. Último dia pra contribuir amanhã!

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