Em suaíle, significa lágrimas de adeus. Meu último dia de África se resumiu a emoções transbordando dos olhos. Depois de todo esse tempo. Quatro meses no continente mais bonito e mais sofrido do mundo. As lições que não sei descrever, dizer. A história que não sei contar. As experiências que não sei explicar. Gratidão, realização, alegria e uma saudade.
Chegar no colégio pela última vez.
Olhar pra carinhas cheias de esperança pela última vez. Receber e dar um
sorriso. Receber e dar uma vida. Dentro do inferno, um palácio de promessas e
expectativas. De gente pequena que nasceu imensa. Que precisa ser imensa. E que
busca a educação como forma de sair dessa condição de miséria. Ninguém merece
isso.
Chegar no colégio pela última vez.
Olhar pras carinhas cheias de tristeza pela primeira vez. Os sentimentos eram
bombas esperando pela faísca. Alegria e orgulho, pelas realizações. Desespero e
saudade de estar deixando isso pra trás. Era só o começo. Fui recebido com
aplausos, abraços e beijos. O banheiro estava pronto, precisava apenas ser
pintado.
Depois de algum tempo, pra lá
fomos. Com tinta branca nas mãos e quase todas as crianças da Childrock.
Começava a pintura. Aproveitei o momento pra respirar. Era necessário. De
repente as crianças abrem uma cartolina com as listas de realizações e desejos de
alegria para mim. Tanta água nos olhos que não consegui tirar foto.
Passada a cartolina, a tinta branca
não estava apenas sendo aplicada. Foi formada uma frase. A frase que me fez
torcer a bandeira do Brasil com toda a força do mundo, num ímpeto de soltar leões
de dentro da alma. O mesmo estandarte pátrio virou um lenço. Não para secar as
lágrimas, mas para esconder o rosto. Soluçava sem parar. Escondia a face não por vergonha do suor caindo dos olhos, mas pra bloquear a visão do que se materializou a minha frente como a maior realização que obtive na vida.
Não fui capaz de parar. Aliás,
ainda não sou. Voltamos para o colégio após a pintura e encontramos todos os
alunos numa grande sala, em imensa cerimônia de despedida. Sem conseguir
enxergar nitidamente pela quantidade de lágrimas, vi cada professor vir e
agradecer, seguido de vários alunos. Recebi cartas, envelopes, presentes.
Recebi vida.
Vem o depoimento da professora do
pré-primário. Segurando o pranto, ela diz que seus alunos falaram pra ela que
Deus havia chegado ao colégio. Chorando, nos abraçamos. O vento bateu. Deus
havia chegado ao colégio, sim. Naquela hora. Tenho certeza. Com o olhar
embaçado, disse pra elas nunca desistirem dos seus sonhos e jamais deixarem
alguém dizer que não é possível. Sempre será.
Ao Quênia, meus mais sinceros
agradecimentos por toda a experiência e aprendizado que levo para sempre no meu
coração. À Childrock, a promessa de voltar e uma saudade que não cabe no peito.
À África, o silêncio. De luto, não. Silêncio pela falta de formas de expressar qualquer
“obrigado” por tudo que passei, das coisas boas às ruins. Essa montanha russa
que não para nem dá trégua. Afinal, TIA. This
is Africa.
Quem lê também não encontra palavras que traduzam a admiração pelo que você fez,um rapaz tão jovem com tanta clareza,determinação,sonhos e atitudes,com tanta sensibilidade,com tanto amor,com capacidade de se colocar no lugar do outro.Quem acompanhou um pouquinho do seu dia a dia se sente orgulhosa de vc e aprendeu alguma coisa.Obrigada por compartilhar suas experiências e tudo de bom para você,hoje e sempre,Lilian
ResponderExcluirUm grande exemplo de vida! PARABÉNS!!! Arnaldo Bichucher
ResponderExcluirLindo texto! entendo um pouco esse sentimento, estive no Kenya em dezembro e janeiro, e vou te dizer q ta muito difícil tirar da cabeça! prepare-se! rs
ResponderExcluirParabéns pelo blog!
bjos
Bruno, absurdamente lindo tudo oq vc escreveu! to procurando palavras p/ explicar mas nao consigo...fiquei mto emocionada c seu texto! Nao existe forma de agradecer tudo q vc fez por essas criancas, por esse povo....uma expressao do mais sincero amor possivel! Muito lindo ver isso! Que Deus lhe dê tudo em dobro! Nao consigo imaginar a felicidade e realizacao q vc deve ta sentindo..e ao mesmo tempo tristeza e saudade! Fica com Deus! parabens mais uma vez pela admiravel coragem de ter feito essa "aventura"! Beijos
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