quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Meu Nome Não É Johnny

Alguém estava seriamente me testando hoje. Demorei duas horas e meia pra chegar ao colégio e quatro horas pra voltar. A refeição foi Corn Flakes às oito da manhã e macarrão de novo só às nove da noite. Claro que ficou horrível já que estou sem luz. E pra fechar o dia, ainda teríamos uma adaptação ao ditado: apressado queima o dedo.

Descobri ontem à noite que as chinesas da casa, Jane, Sheryl, Sissy, outra Sissy e muitas outras que não sei o nome, na verdade inventam nomes “americanos” pra que todos possam chamá-las e gravar suas novas identidades. Imagina que loucura seria chegar na China e inventar um nome novo pra você. Quando perguntei pra Jane da onde ela tinha tirado seu nome, ela disse que escolheu porque achava bonitinho. Justo, justo. Mas a Sheryl tá caprichando no mau gosto.

Outra esquisitice que ocorreu foi a seguinte: uma senhora vestindo burca do meu lado no Dela-Dela, daquelas que cobrem tudo e só deixam os olhos de fora (muito comum por aqui, já que o país é muçulmano) estava com um bebê de colo no transporte. Assim que o bebê começou a chorar, a cidadã prontamente puxou seu seio esquerdo pra fora da burca no ímpeto de amamentar o rebento. Quer dizer que olhar a cara não pode, mas botar o mamilo pra jogo tá tudo certo? Aceito conclusões.

A paixão tanzaniana é o fute-bola, mas infelizmente a preferência nacional é a Liga Inglesa, decorrência da breve passagem colonizadora dos amigos da rainha Elizabeth. Ainda é com extremo pesar que digo aos camaradas brazucas que eles só conhecem dois times do Brasil: Flamengo e Corinthians. Tenho certeza é questão de tempo até que venham a conhecer todos os outros, com os olhares na Copa do Mundo.

Pelos últimos dias, ainda encontrei com dois educadores com estilos muito diferentes durante o trajeto pelo Dela-Dela. Um deles espalhando panfletos sobre a importância da educação aos jovens, na tentativa de alertar pais e tios sobre o incentivo necessário. O outro apenas puxou o assunto ao meu lado e me lembrou de comentar algo gritante e fundamental daqui.

Ontem falei um pouco de educação, mas muito pouco pro tamanho do assunto:

A Tanzânia atravessa uma crise educacional neste momento. Os alunos prestaram o exame nacional de avaliação e 60% tirou zero. Ou seja, mais da metade do país não sabe nada sobre a matéria de qualquer assunto. Não foi protesto estudantil, como me garantiu o amigo do ônibus, mas simples ignorância e falta de estabelecimento de diretrizes por parte do Ministério da Educação (existente sim).

Ademais, foi constatado um rombo de 1,6 bilhões de Shillings (100 milhões de dólares) na verba destinada à educação. Isso representa 10% do PIB, pelo dado obtido através deste sujeito, que acabou declarando sua participação na oposição política ao regime atual. Dar aula de Direitos Humanos se provou  ainda mais importante missão.



2 comentários:

  1. Meu amigo, primeiro que nada mais do que esperado num país africano, ter o conhecimento somente do "Framengo" e do Corinthians... como você mesmo falou FALTA EDUCAÇÃO!!!!

    Agora sério, é realmente surreal está estatística de 60% tirar zero num exame nacional. Parece que o país está ainda na idade das pedras e que meia dúzia descobriu como fazer fogo!!!

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