quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O Senhor do Maufim

Fui abordado por uma menina do St. Thomas por estar usando uma fitinha verde no tornozelo esquerdo. Ela nunca tinha visto nada parecido, mas a aproximação tinha um motivo: a menina estava preocupada com a possibilidade de ser bruxaria. Daí tive que explicar pra ela que eu era de Hogwarts e conhecia o Harry Potter, mas de nada adiantou. Ela nunca ouviu falar no menino-que-sobreviveu.

Tive que explicar que era um “amuleto de sorte” e descrever todas as finalidades da fitinha do Senhor do Bonfim pra tentar convencer que eu não estava praticando witchcraft. Como na vida “tudo é maneira de falar”, abordei apenas a parte dos desejos se realizarem, mas sem entrar no mérito religioso desse ornamento baiano.

Acontece que por essas bandas de cá, bruxaria ainda é uma preocupação não só cultural como criminal. A prática de bruxaria é considerada crime e levou principalmente mulheres à morte, com relatos de incidentes comprovados na década de 90, embora se saiba que essas medidas ainda estejam em vigor em diversos locais da Tanzânia e da África.

Outro ponto assustador e praticado é a mutilação genital feminina. Essa conduta, punível com até quinze anos de cadeia por uma lei local desde 1998, é feita principalmente em meninas menores de dezoito anos. Apesar da vigência da lei e do conhecimento público sobre a existência dessas ações, não há relato de sequer um processo envolvendo participantes deste ato abominável.

O curioso em relação à bruxaria é que muitos locais procuram médicos curandeiros ao invés de optarem pela medicina tradicional. Isso se dá não apenas pela crença da população em métodos de cura antigos, mas pelo alto preço do tratamento médico convencional. Um chinês da casa (“Frank”) pegou malária e não tinha seguro saúde. Gastou oitocentos dólares numa internação de dois dias no hospital. Salgado.

Sobre a saúde:


As pessoas não parecem se preocupar com malária ou com qualquer outro problema. Não é a toa que a expectativa de vida de cá é de 53 anos. Também pudera, comer batata, arroz e macarrão a vida inteira não deve dar todos os nutrientes necessários pro bom funcionamento do organismo (só pra correr uma maratona ou outra, aí dá sim).


Não há farmácias em qualquer lugar e até pra comprar shampoo é preciso programar um pulo na loja com antecedência. Não existe delivery (logicamente) e muito menos “genérico”. O serviço de saúde apesar de não ser tão ruim, é extremamente caro e inacessível pra maior parte do povo. Então é fé em Deus e pé na tábua pra não pegar nada.

2 comentários:

  1. Surreal a questão de saúde!!! Só em Copacabana deve ter o mesmo número de farmácias da Tanzânia toda...

    Em relação a questão feminina de mutilação genital, vale a pena conferir o filme FLOR DO DESERTO, baseado em fatos reais. A história conta a vida de uma menina da Somália, que foge, consegue ir a Londres e lá acaba virando uma grande modelo.

    Vale a leitura da sinopse: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,flor-do-deserto-mostra-historia-real-de-modelo-somali,571930,0.htm

    Beijunda Cocossauro, tem entrado quando no skype?

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  2. Com certeza, no Rio é uma farmácia por esquina! Vou conferir assim que voltar irmão, aqui não dá muito pra pegar filme não, embora tenha locadora pra caramba! Abração!

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