Chegando na casa ontem pela tarde, não acreditei.
Como disse ontem, a casa é um verdadeiro palácio de veraneio perto da
experiência tanzaniana. Neste exato momento enquanto escrevo, em pleno sábado,
Noah (local camaradíssimo) faz um jantar espetacular pra todos. Isso porque acabei de tomar um banho
quentinho e dar uma cochilada no meu edredom. Pode isso, Arnaldo?
Claro que é maravilhoso estar num ambiente surreal de
bom e extremamente aconchegante. Depois de não apenas ter trabalhado como
voluntário em Dar es Salaam, mas vivido o voluntariado até dentro de casa, é
como se eu estivesse descansando do que passou. Mais que isso, a casa é um
refúgio pra “fugir do bicho” e sair da realidade miserável que assola boa parte
do continente.
Por isso, minha primeira reação foi de perplexidade.
Fiquei bobo com todas as condições, alguém lavando minha roupa (alô mamãe e
vovó), televisão, travesseiro e o toque de maestria: um violão. A sensação é de
estar num SPA de luxo ou hotel cinco estrelas saindo diretamente do inferno
depois de ter enfrentado o capeta em pessoa.
Porém, parando pra pensar depois, não gostei. Tenho
total certeza que não serei capaz de ir trabalhar na escola no meio de uma
favela em situação precária e voltar pro meu loft (hum) pra curtir o final do dia em grande estilo. Como será
possível laborar em prol da educação e de certa forma, justiça social, do alto da
minha beliche que faz lembrar o leito dos anjos?
Além disso, o intercâmbio acaba se tornando a
experiência pro intercambista e não exatamente um ato de ajuda ao próximo. Vir
pra cá e ficar curtindo noitada e bares pra depois tirar foto do menininho
raquítico no colégio é mole. Aliás, percebi que uma parte considerável dos
trabalhos voluntários realizados tem fundamentos no “egoísmo”, com foco no
voluntário ao contrário do auxílio tão necessário.
Vai ver por isso que tanta gente da Europa vem pro
Quênia. Não estou desmerecendo a ação dos caras, que é muitíssimo bem-vinda.
Não se dispor a ajudar independentemente da maneira de viver não é exatamente
visualizar o crescimento proporcionado. Acaba sendo aquele trabalho voluntário
pra voltar pra terrinha e bater no peito dizendo que fez (enquanto tomava vinho
importado e curtia adoidado o que o país tem pra oferecer).
No final das contas, não sei o saldo da balança.
Será uma honra me esforçar o máximo pra atingir qualquer impacto na escola em
que vou dar aula. A viagem continua sendo uma experiência absurda pela troca
cultural, pela labuta voluntária e agora, pelo tempo que preciso pra organizar
meu planejamento profissional (meta individual). Vai ver o desafio é justamente
esse. Dar o sangue no colégio sem deixar a cabeça perder o senso da realidade.
Essa frase justificaria isso tudo. Nada é por acaso.
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