Posso dizer que acabo de sair de uma das mais
incríveis experiências da minha vida. Possivelmente a mais inacreditável de
todas. No entanto, a volta não trouxe à tona sentimentos tão positivos assim.
Vou deixar pra escrever sobre o safári em outro momento, quando estiver com os
ânimos renovados e a memória viva do que passou.
O que me
chamou atenção no retorno à Arusha foi outro bicho. Um bicho sofrido demais,
que carregava comida na cabeça pra dar aos filhotes. Um bicho que passeava por
um posto de gasolina quase abandonado. Um bicho que fica te olhando quando você
passa, suplicando pra ser adotado por alguém que consiga tratar bem dele.
Foi um alívio grande sair como turista na Tanzânia
por alguns dias. Justamente porque não era mais necessário lidar com o bicho
diariamente. Não precisava ver o sofrimento do bicho, as condições de vida do
bicho, os olhos na mistura de raiva com pedidos de ajuda. O bicho continuava lá
no lugar dele, mas o que os olhos não veem o coração não sente.
Vai ver por isso tanta gente tem dificuldade de abrir
a porta da alma até pra quem ama. Acostumados a ignorar fatos pra impedir
sentimentos, torna-se preferível não olhar pro bicho do que tomar a consciência
de que ele tá ali, olhando, estranhando. Acho que o que mais dói é pensar na
falta de perspectiva do bicho, zanzando só pra sobreviver.
No final das contas, é isso que todos nós somos.
Bichos. Depois de ver tanto bicho bacana, tinha abstraído o bicho cotidiano.
Lembrando dele, me deu uma vontade danada de chorar. Nunca conseguiria fechar
os olhos pra não ver, mas o retorno da consciência veio como um tiro. Até uma
culpa pequena pelo safári, coisa que boa parte dos bichos de cá jamais teria
condições de fazer.
Depois um tempo convivendo com o sofrimento do bicho,
o coração pede uma trégua. Não é fácil acordar e ver a batalha de todo dia do
bicho. Viver nessas condições é o de menos, isso pra mim vai passar. O que não
vai passar nunca é o conhecimento de que o bicho tá aqui. Respirando, comendo
(quando dá), sendo agressivo ou amigável. Vamos fazer algo, certo, bicho?
No meu último dia de Tanzânia, milhões de
agradecimentos. Por toda a vivência que não é pouca. Pelas diretrizes
profissionais e pessoais que me deu. Pela camaradagem de todos aqueles que
participaram do processo, de longe ou de perto. Por ser um aprendizado que vou
levar pra eternidade. E por outros tantos motivos que não sei colocar em
palavras. À Tanzânia, meu mais sincero obrigado.
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