O último dia de safári superou os limites dos outros
dois dias juntos. Se é que era possível. A paisagem do acampamento em Ngorogoro
Crater foi eternizada na memória como o cenário mais bonito que vi na vida.
Tentei tirar algumas fotos, mas não consegui fotografar o giro de trezentos e
sessenta graus no meio de uma natureza alucinante.
Se no outro acampamento havia leões e hienas entre as
barracas, neste sítio o animal era outro. Antes mesmo de dormir, cerca de dez
horas da noite, era possível ver pela lanterna vários elefantes atravessando o
acampamento de dois mil e trezentos metros de altitude em busca de comida.
Imagina só: levantar a luz pra um local com ruídos e barulhos e ver paquidermes
caminhando lentamente, a dez metros de você. Palavrão a sua escolha.
O único problema foi que nessa noite me deu vontade
de urinar às três da manhã. Sem condições nenhumas de andar até o banheiro e
tremendo de frio, abri um pouquinho o zíper da barraca tentando ver qualquer
bicho ao redor. Quase chorando de medo, não consegui sair. O máximo que deu pra
fazer foi colocar o menino pra fora e rezar pra não tomar uma mordida na
criança.
A bateria da minha câmera havia acabado dos primeiros
dias e rezei pra ter onde carregar. Achei, que alegria! Seria ainda mais feliz
se eu não tivesse sido atacado por um besouro pré-histórico maior que a minha
cabeça enquanto segurava a câmera. Nesse instante, depois de passar a noite
inteira recuperando a carga, o objeto fotográfico deu um voo mais bonito que o
de vários pássaros do safári e estatelou no chão sem vida. Que sorte.
Depois do episódio memorável, parti rumo à cratera,
numa descida fenomenal. Ao contrário do Serengeti, onde os bichos estão cada um
no seu próprio habitat, dentro de Ngorogoro todos os animais dividiam o mesmo espaço.
Elefantes, rinocerontes, hienas, leões, búfalos, gnus, zebras, avestruzes, hipopótamos e
até uma lagoa com milhares de Flamingos aglomerados.
Acompanhe as palavras, depois fecha o olho e imagina.
Uma cratera lotada de natureza, de uma diversidade biológica absurda. Descida às
seis da manhã pegando o nascer do sol com o despertar de todas as criaturas. Dando
bom dia pras zebras. Pendurado no teto do carro, os olhos tentando registrar
cada virada de pescoço. Momento mágico.
Depois da aventura, o guia contou algumas histórias
de terror do acampamento, com elefantes surtando e pisoteando barracas. Bacana
que ele não fez isso antes, senão ia ser brabo de cair no sono. No dia mais
surreal de todos e sem câmera, fiquei só com as fotos do celular. Dá pra ter
uma noção e morrer de vontade de fazer isso. Por favor, uma vez na vida, façam
isso. Câmbio, desligo.
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