A maratona da Tanzânia apresentou a conta. Desde que
cheguei à sensacional cidade de Nairóbi, tenho estado muito cansado e só
consigo dormir. Talvez tenha sido porque achei um porto seguro dentro de casa,
como se agora fosse possível relaxar depois de tanto esforço e perrengue. De
certa forma, me julgo merecedor de uma respirada.
Descobri que essa respirada na verdade é só pra pegar
fôlego. Fui ao colégio hoje pela primeira vez e confesso que fiquei
impressionado com o que vi. Pretendo falar do trabalho em detalhes depois, mas
posso dizer que todo dia de nove às três da tarde vou laborar em prol dessas crianças
geniais. Na sexta-feira, pra fechar a semana com chave de ouro, animar crianças
com câncer no hospital.
Por um lado estou em êxtase com todas as perspectivas
futuros. No entanto, existe certa preocupação de aguentar a forte jornada que
me aguarda. Não fisicamente, mas mentalmente. Todo esse processo inicial de adaptação
é complicado e os desafios que se apresentam pela frente não são poucos.
Ensinar história, inglês e Direitos Humanos (consegui acrescentar isso à grade
curricular) de segunda a sexta será brabo.
Não para por aí. Ainda devo apresentar aulas pra um grupo
de adultos dentro da favela onde se localiza o colégio, numa expansão de
conhecimentos que consegui por acá. Sob as condições locais, o desgaste vai ser
hardcore. Dois meses nessa rotina rotineira
vai deixar suas marcas, ah vai. Prepara o banho quente mãe. Menino Bruno
chegará cansado.
Simultaneamente, Noah (um dos camaradas que trabalha
na casa cozinhando e arrumando tudo) é maratonista e amigo do recém-campeão da
Maratona de Paris. Todos os dias de manhã, antes de trazer o café da manhã
fresquinho, vinte quilômetros. Depois do almoço, mais vinte quilômetros. Antes
do jantar, vintinho pra encerrar o dia bem. Vou tentar confiscar um pouco dessa
disposição.
Gravei um vídeo da casa assim como fiz com a outra. Dá pra comparar e ver todas as diferenças. Até Nescau de herança brazuca deu o ar da graça na residência. Apesar do garfo não estar todos os dias à disposição (não tem muitos), só de observar esse belo objeto pontiagudo tenho calafrios de emoção. Isso pra não falar no assento sanitário, com o qual desenvolvi íntima relação. Somos eu e ele, agora. Confira.
A sorte é que, assim como cidadão Armstrong,
conto com dopings em dosagens cavalares. Um papo com vovô e vovó no Skype, o
sorriso daquela criança no colégio que não tem nada a não ser a oportunidade pra
agarrar e os amigos brincando sempre no facebook. Pelos poderes de Greyskull,
vou precisar de vocês. Não me deixem só. Eu tenho medo do escuro.
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