domingo, 19 de maio de 2013

À Moda da Casa


Depois da atipicidade de ter se amarrado em Westgate, domingo é dia de churrasco. Nada melhor do que juntar uma rapaziada, botar um pagode na laje e alguma coisa pra grelhar com a vista da cidade. Peraí, churrasco no Quênia? Qual o sentido disso? Do universo? Como pode o peixe vivo viver fora da água fria? Calma, camarada. Churrasco à moda da casa.

Na despedida de uma amiga brazuca que fiz por terras africanas, ela teve a ideia de promover um “churrasco” convocando todo mundo que conhecia. O resultado final foi: linguiça, linguiça temperada, pouquinho de frango (com peito, coxa, asa e todo o resto), linguiça, pão, beterraba, pepino e linguiça temperada. Não preciso nem dizer que passei absurdos de mal.

Como todo churrasco, alguém sempre será eleito pra ser o tio da grelha. O homem que comanda e alegra multidões enquanto fica esquecido naquele cantinho importante com carvão e fogo. Tem que ser um cara que saiba das coisas. Obrigado, obrigado. A honra de cuidar dos alimentos e não falar com ninguém enquanto suava feito os pequenos pedaços de frango queimando foi minha.

Tirando a náusea pós alimentação, valeu a pena. Levei o reprodutor musical e além de ter rolado música brasileira de boníssima qualidade, tudo foi feito numa laje. Pagode na laje no Quênia. Ah, saudade. Com vários temperos indianos, batata de pacote e caipirinha feita com Sprite, limão, açúcar e Kenya Cane™. Não, eu não bebo por acá e a culpa foi das linguiças e temperos indianos mesmo.

O evento foi bom, mas boa mesmo foi a conversa que tive com a cidadã que se vai na terça-feira. Depois de contar sobre os Voluntários Involuntários e toda a rapaziada que vem pra cá farrear até não poder mais, recebi uma resposta sincera que mudou um pouquinho minha forma de pensar. Continuo radical quanto a isso, mas acho que menos.

Todo mundo tem um timing diferente. Uma evolução diferente, um aprendizado diferente. Tem gente que vem pra cá e sofre uma mudança surreal, passando a ser mais extrovertida. Tem gente que vem e aprende a ter disciplina e se engajar em causas sociais quando voltar. Cada um, apesar de agir de formas que eu pessoalmente reprovo, precisa agir dessas maneiras pra ter o seu próprio aprendizado.

Concordo, mas o que mantém o meu radicalismo é a pena pelo fato de que estas pessoas não se jogam de cabeça. Os aprendizados são incontáveis, infinitos. Todo dia existe algo novo pra se aprender, se viver, se experimentar. Quanto mais ocorre um “fechamento” ao próprio mundo, aos mesmos hábitos, mesmos gostos, menos se ganha em todos os aspectos. Acaba que há a possibilidade de se evoluir uma vida inteira, de se desenvolver absurdos e o desenvolvimento é pequenininho. Mas, tudo bién.

Enquanto isso, o mundo continua rodando, a vida vai progredindo e o Rio de Janeiro continua lindo. A campanha continua voando, as obras começando e as crianças da Childrock sorrindo. Como sou poeta de final de semana, deixo nas mãos dos sensacionais versinhos do Natiruts. “Cantando eu mando um alô, para você que acreditou. Que podia ser mais feliz vendo o outro ser feliz”. R$11.973,60! Sigam-me os bons!

sábado, 18 de maio de 2013

Westgate Shopping

Sempre odiei shoppings. Até pra comprar coisas pra mim. Quem quer passear no shopping então, nada pior. Que programa de índio. Tanto lugar bacana pra andar, vai querer perambular justo pelo meio de um monte de gente que teve a mesma brilhante ideia de “só dar uma olhadinha”. Comer na praça de alimentação então, uma belíssima guerra pra achar um lugar que não esteja imundo.

Até que saí pra dar uma volta com Matt, meu camarada holandês. Andando pra resolver alguns negócios, passamos por carros, bancos, prédios e casas. Então, ele sugeriu que continuássemos a caminhada até o Westgate, o maior shopping da cidade. Em terreno carioca, eu protestaria no mesmo segundo, perguntando qual a utilidade, a finalidade e que horas voltaríamos pra casa.


Na hora de entrar no recinto, uma alegria imensa tomou conta. Depois de conviver no caos da cidade de Nairóbi, nas favelas de Mukuro ou em outras zonas da cidade em que sempre falta alguma coisa, chegar num ambiente com ar-condicionado, depois de tanto tempo sem esse belíssimo aparelho, foi puro prazer.  Geladinho que só vendo. Ô delícia.

E a voltinha de escada rolante? Que tecnologia maravilhosa. O que será que o homem vai criar depois de tão magnífico aparato? Até que ponto vamos chegar? Imagine você que ao pisar no primeiro degrau, o mesmo degrau é capaz de transportar pro piso acima, sem ter que dar nem um passo a mais. A lógica é subir normalmente e ser ajudado pela eletricidade, mas fiquei bobo com a facilidade do equipamento.


Gente de todos os tipos, sem te olharem estranho por ser branco, indiano, negro, chinês ou só muito lindo mesmo. Sem condições de comprar nada, claro. Os precinhos astronômicos pela frequência da nata de Nairóbi inviabilizam qualquer aquisição. Só uma rede bem famosa de cafés cobrava a bagatela de cinco dólares por uma xícara. Starbucks? Não não, Java Café.

Uma loja muito grande de brinquedos, quiosque de sorvete, Nike e Adidas. Livraria, loja de roupa. Quem foi o gênio que pensou em juntar todas as coisas num lugar só? Esse cara merece um troféu. Assim como o Safári ajudou a sair da realidade miserável, fugindo como turista por um tempo, entrar no shopping era um teletransporte pra uma realidade não tão estranha ou triste.


Certa vez vi num filme de comédia (acho que era Tenha Fé) que as pessoas mais velhas se apegam a hábitos como uma “segurança” frente todas as mudanças do mundo. O passeio não foi diferente. Depois de conviver num universo completamente estranho ao que se está acostumado, Westgate trouxe um senso de “familiaridade” gostoso. Quanta gente, quanta alegria!

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Alimento & Ação


Que dia. Espetacular. Entreguei uma parte considerável (setenta mil shillings) para o começo da construção do banheiro, oficialmente aprovada por engenheiro, diretor e responsável AIESECo pelo projeto. Então segunda-feira começa. Só aguardar curtindo uma tranquilidade que o projeto sairá do forno, se Deus quiser, assim que acabar o final de semana. Nunca quis que um “descanso” passasse tão rápido.


Os alimentos adquiridos por todos nós chegam amanhã. Não se preocupem porque ainda havia um restinho de comida no estoque, infelizmente em péssimo estado, mas que não dá pra jogar fora. Aproveitei pra almoçar no colégio, por não ter problema a falta de comida, e percebi que alguns dos meus feijões brancos se mexiam. Para minha imensa surpresa, os “feijões dançantes” não eram feijões.



Como a comida é armazenada a lá época de Dom Pedro e não há eletricidade em toda a favela pra refrigerar o alimento, é normal que alguns bichinhos apareçam de bônus no seu prato. É tão comum que o governo emitiu um comunicado explicando quais bichinhos faziam mal e quais não tinham problema. Tomara que os meus tenham me dado apenas a dor de barriga que se apresenta right now.


Pra melhorar a sexta, as cartinhas de vários de vocês, fenomenais nas contribuições, ficaram prontas. Vou usar de exemplo a da Renata Silva, só pra dar uma ideia. Que espetáculo o desenho, né? Algumas figuras foram copiadas de um livro de colorir pra ficarem bonitinhas, outras são criações das crianças. Todas feitas pelas próprias crianças, com agradecimentos e mensagens. Pra se guardar pra sempre.

Mais três vídeos de agradecimento também estão prontos e disponíveis no YouTube. Basta procurar por Childrock Initiative que vai aparecer, com o primeiro nome dos contribuintes. Se der vontade de ter um vídeo pra chamar de seu, sabe o que fazer né? Ah, não sabe? Não seja por isso. As instruções estão aqui. Ainda dá tempo!


Como hoje é sexta-feira, a ordem é relaxar. Nada de saídas ou excessos. Descansar. O trabalho é espetacular, recomendo pra todos que tem essa vontade. Agora, é uma parada dura. Psicologicamente falando então, significa tomar um tiro na consciência todos os dias. Fui dar uma volta com o AIESECo responsável pelo colégio que busca por outra instituição pra expandir a atuação da AIESEC.

Cada viela, cada virada é um pedacinho do coração sangrando. Seja pelas crianças andando descalças no lixo, pela senhora “idosa” imunda e desnutrida alimentando um neto (ou até um filho, dependendo da idade) ou só pelo pessoal encostado nas “paredes”, com um olhar perdido de não saber o que fazer. Essas imagens perseguem a cabeça como um lembrete de que a situação é crítica. Bola adelante.

Pra atualizar (e comemorar, sempre): R$11.823,60! Quero ver o dois depois do um!

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Pole Pole


Significa devagar em suaíle. Esse é o ritmo que levam alguns dos quenianos. Não no centro da cidade, onde impera o caos e a desordem. Nem na hora de falar, porque são umas belas matracas. Mas fiquei dependendo de Erick me mandar os custos equivalentes à primeira fase do banheiro e estou esperando até agora. O que significa que o início do banheiro atrasou.

Essa situação é realmente muito chata. E olha como é engraçado. Escrevendo essa publicação, acabo de receber a mensagem com a primeira fase estimada em oitenta e cinco mil shillings (uns mil dólares) para entregar amanhã, visando a compra de materiais e custos de trabalho. O que significa que tomorrow mesmo começa o banheiro e uma bela reviravolta no que eu ia escrever. Espetacular.

Continuando com a novela de ontem, se resolveu da seguinte forma. Depois do surto que tive ao contemplar todos os problemas juntos, falei com o pessoal da AIESEC se seria possível me mudar da casa, por não aguentar mais conviver com tanta trapalhada. Com argumentos bem fundamentados, providenciaram a minha mudança pra amanhã.

Acontece que ao mesmo tempo em que eu quero sair, mudar de casa pode ser um perrengue danado. Readaptação à rotina da casa, ao ambiente, bairro, companhias e funcionamentos é complicado, fora o transtorno de empacotar tudo só pra desempacotar a alguns quilômetros daqui. Por isso, tive uma rápida conversa com os habitantes do prostíbulo e os assuntos foram razoavelmente resolvidos.

Pra completar, uma reunião envolvendo todos os intercambistas da casa e o administrador selou a paz de volta ao ambiente doméstico. O clima ficou bem bom depois disso e alguns até saíram pra comemorar e curtir a quinta-feira. Fizeram até alisamento no meu cabelo, mas corri pra debaixo do chuveiro pra voltar às madeixas ao estado original. Guapo.

O dia foi relativamente parado. Atualizei algumas planilhas, editei alguns vídeos e só saí pra sacar dinheiro pro projeto nos caixas eletrônicos longe daqui. Amanhã vou ter que transportar uma quantidade grande de dinheiro e ainda parar na cidade pra sacar mais. Que Papai do Céu fique de olho porque a causa é nobre. A malandragem não pode nem aparecer.

Sem mais delongas, atualizo: R$11.323,60. Tá bom ou quer mais? Quer mais? Então vambora!

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Gota D'Água


A campanha vai excepcionalmente bem. Toda a experiência africana tem sido de um conhecimento ímpar. Eu tenho milhões de motivos pra estar sorrindo, mas ainda assim, algo incomoda. E mesmo no meio de tanta paz e tanta alegria, uma pontadinha de insatisfação pode ser chata demais. É como se eu estivesse comemorando um título de Copa do Mundo e uma abelha viesse perturbar bem na hora do apito final.

A proprietária da casa em que moro fez um acordo com o pessoal da AIESEC de cá pra que os intercambistas pudessem pagar um preço bem mais em conta com direito a café da manhã, jantar e uma senhorinha mandando ver nas roupas uma vez por semana. Até aí, maravilha. Comida, cama e roupa lavada.

Infelizmente, a minha insatisfação com os outros intercambistas não é de hoje. Primeiro pela ideologia mequetrefe que se encontra em qualquer esquina. Não vieram pra cá ajudar, vieram cumprir mil objetivos pessoais em primeiro plano pra depois lembrar que estão aqui por isso. Não posso fazer nada quanto a isso a não ser conviver em paz.


Acontece que alguns destes indivíduos alopram a harmonia da casa e como ninguém tem disposição de tomar a frente e reclamar, seja o pessoal da AIESEC ou os administradores da residência, o Bruno vira o cara chato e reclamão pra qualquer assunto. E se tiverem que reclamar com alguém, o Bruno que pediu. Então o Bruno é gente boa, mas irritadinho com qualquer assunto.

Claro, sem dúvidas eu sou fresco. Alguns exemplos: o assento do vaso sanitário foi quebrado; o meu sabonete sendo usado por outros; “feze”, no singular mesmo, aparecendo no rolo de papel higiênico supostamente limpo; a galera sem qualquer noção de higiene chegando suada e fedendo feito porco, se espalhando nos móveis; geleia à beça no pote de manteiga, etc.

Ah, normal Bruno, acontece. Claro, acontece. Vamos subir de nível? O camarada trazendo prostituta pra dentro de casa; chegando bêbado feito gambá, perturbando os outros e quebrando as coisas; a cidadã que no primeiro dia de Quênia caiu dentro do moreno e agora traz o amigo pra jantar da minha comida dia sim, dia também, etc.

Ok, mas por que isso agora? Pelo seguinte episódio: fui sair de casa pra sacar dinheiro pro projeto (amanhã começa o banheiro, lembra?) e na porta, fui abordado pelo camarada que disse trazer a meretriz pra dentro de casa de novo e não queria nem saber as regras. Depois de ter dado uma bonita surra argumentativa no nórdico que não teve o menor respeito ou educação, aceitei (transtornado) botar a menina pra dentro da casa.

Voltando, entro em casa e sou obrigado a ficar na sala, já que o amigo se encarregou de ir direto aos aposentos para fornicar, sem nem dar boa tarde. Assim, ficou Bruno sentado no sofá, raivoso, esperando o digníssimo finalizar seu acasalamento no mesmo quarto que guardo todos os meus bens e pertences. Bacana, né?


Por todo o exposto, vou me mudar, é sério. Tem outra casa da AIESEC pra ir, fiquem sossegados. Já que eu sou o reclamão e estou começando a ficar incomodado inclusive comigo mesmo, por saber que estou chato (sem escolha), os incomodados que se mudem, certo? Se não dá pra botar ordem no prostíbulo, a solução é partir pra outra residência. Cenas dos próximos capítulos em breve que agora eu to até com dor de cabeça.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Barriga Cheia


Existe uma piada (pesada) que diz que Papai Noel não passou pela África porque criança que não come não ganha presente. Não seja por isso, natalino. Pode vir e vem voando! Hoje, nós (eu e todos vocês que contribuíram) conseguimos garantir a alimentação de cento e sessenta crianças pelos próximos dois meses com quatrocentos e trinta e dois dólares. E isso é só pra começar.

Arrumei com dois professores da Childrock de irmos todos atrás de todos (sim, todos) os livros didáticos necessários para as crianças, todas as matérias e todas as séries, na sexta-feira. Portanto, nessa sexta mesmo, podem esperar fotos de material escolar à beça. Acabou? Claro que não. O bonde não para e o show tem que continuar.


Visitei também o local em que o banheiro será erguido, começando nesta quinta-feira. O seguro morreu de velho e a demora se deve ao grau de exigência altíssimo que impus aos administradores do colégio. Quer fazer? Vamos fazer. Mas vai ser do meu jeito. A obra será dividida em etapas ou fases, pra garantir que o dinheiro entregue corresponda ao cumprimento de X metas ou à compra de Y materiais.

A foto do local (com Erick, o diretor) é essa e os ambientalistas nem se movam das cadeiras, porque o rio não servirá como depósito de dejetos e nem se tornará o Piscinão de Ramos do Quênia. O alto custo da obra se deve tanto à conexão das fossas ao sistema de esgoto da cidade quanto à necessidade de elevação do toalete pra que não fique na altura do rio, sujeito à destruição causada por cheias e enchentes.

Preciso compartilhar o que aconteceu de mais maravilhoso no dia. As crianças fizeram uma festa pra comemorar a existência de comida pelo período contínuo de dois meses. Das milhões de lições que podem se tirar desse fato, fica pra os privilegiados do mundo (nós) ao menos a mais evidente delas: a gratidão imensa por ter alimentos todos os dias na frente da mesa.

Voltando pra casa com a energia a mil, conheci Amós, que pela bíblia, significa o “carregador de fardos”. Esse menino de dezenove anos, trabalhando como guarda de prédio pra faturar o seu pão, tirou B- no vestibular queniano e não se qualificou pra medicina, seu sonho. Viemos conversando porque ele não me pediu comida, dinheiro ou algo parecido, mas uma bolsa de estudos.

Peguei o seu telefone e disse que tentaria arrumar alguma forma de patrocínio por organizações que vivem de fazer esse trabalho. Se alguém souber de alguma forma pra mandar esse rapaz pra faculdade de medicina, ainda que fora do Quênia, por favor se manifeste. Parece pouco, mas mudar a realidade de uma pessoa pode significar mudar a realidade de várias no futuro.

Voltando ao ritmo das comemorações e celebrações, a meta de dez mil reais foi superada. Isso mesmo. Se na última atualização tínhamos R$9.273,82, a cifra agora é essa: R$11.073,82. Onze mil reais que equivalem a pouco mais de U$5.000,00 (cinco mil dólares) na cotação de 2,14 (padrão do cartão internacional). Contamos com todos vocês que tá bonito de dar gosto! Parabéns a todos!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Apartheid Às Avessas


Enquanto estive na Tanzânia, escrevi um pouco sobre essa sensação nada agradável de ser um Mzungu (menino branco) por lá. Toda a repressão do período colonial (até 1950 e poucos) se inverteu e o oprimido virou o opressor.  Não tem vez quem é branco, que será analisado, discriminado, cobrado além do valor verdadeiro, insultado (eventualmente) e por aí vai.

Lógico que não é sempre assim. Existem aqueles mais iluminados que defendem os Mzungus, porque sabem que o caminho não é por aí. Então dá pra encontrar gente do “seu lado”, embora a mera existência de “lados” seja completamente imbecil. Depois de um tempo, acostuma-se à mentalidade e vira algo incômodo mas, infelizmente, normal.

Pelo menos o governo não apoia essa segregação. Não? Pois é, apoia sim. Hoje passei no Museu Nacional e a tabela de preços era a seguinte: Quenianos (300 Shillings), Negros (700 Shillings), Brancos (1.500 Shillings). Essa cara que você provavelmente está fazendo é a mesma cara que fiz na hora. Só pode ser pegadinha. Sérgio Mallandro, pode sair de trás do balcão fazendo “Glu Glu Ié Ié”.

Essa atitude não se limita apenas ao Museu. Não foi a primeira vez (e nem será a última) que vi gente cobrando mais caro de brancos. Aliás, essa prática é amplamente difundida. O Mzungu é visto como se fosse um tesouro ambulante, sempre “disposto” a pagar cinco vezes mais por uma lata de leite em pó ou um cinto. Este que comprei em Dar es Salaam e paguei cinco vezes o preço.

É “compreensível” que os populares tenham essa ideologia do branco colonizador e rico, mas daí a política estúpida de separação ser incentivada por atos do governo é um absurdo sem eira nem beira (afinal, o Museu é administrado pelo governo). Nada que umas aulinhas de Direitos Humanos e uns anos de apoio externo (sincero e sem más intenções) não resolva.

Pra falar de coisa boa, fiz o primeiro saque pra investir no banheiro e na comida. O diretor não pôde ir ao colégio e me ligou dizendo que as crianças não tem se alimentado adequadamente porque a receita da comida está perto do fim. Com isso, amanhã mesmo vou dar um upgrade nesse almoço com 50.000 (cinquenta mil shillings), coisa de 620 dólares. Não adianta nada comprar livros se as crianças não estiverem mais lá.

Ainda fui fazer um exercício e dar uma corridinha. Como estou na altitude e com o joelho todo bichado, o desempenho foi vergonhoso. Sorte que adquiri uma corda aqui pra pular além da corrida, numa tentativa de compensar o atleta das “pistas” (de asfalto e terra). Não estou mais desnutrido como na Tanzânia, pelo contrário. To compensando os perrengues no (fraco) jantar e tome feijão.