Enquanto estive na Tanzânia,
escrevi um pouco sobre essa sensação nada agradável de ser um Mzungu (menino branco) por lá. Toda a
repressão do período colonial (até 1950 e poucos) se inverteu e o oprimido
virou o opressor. Não tem vez quem é
branco, que será analisado, discriminado, cobrado além do valor verdadeiro, insultado
(eventualmente) e por aí vai.
Lógico que não é sempre assim. Existem
aqueles mais iluminados que defendem os Mzungus,
porque sabem que o caminho não é por aí. Então dá pra encontrar gente do “seu
lado”, embora a mera existência de “lados” seja completamente imbecil. Depois
de um tempo, acostuma-se à mentalidade e vira algo incômodo mas, infelizmente,
normal.
Pelo menos o governo não apoia essa
segregação. Não? Pois é, apoia sim. Hoje passei no Museu Nacional e a tabela de
preços era a seguinte: Quenianos (300 Shillings), Negros (700 Shillings),
Brancos (1.500 Shillings). Essa cara que você provavelmente está fazendo é a
mesma cara que fiz na hora. Só pode ser pegadinha. Sérgio Mallandro, pode sair
de trás do balcão fazendo “Glu Glu Ié Ié”.
Essa atitude não se limita apenas
ao Museu. Não foi a primeira vez (e nem será a última) que vi gente cobrando
mais caro de brancos. Aliás, essa prática é amplamente difundida. O Mzungu é visto como se fosse um tesouro
ambulante, sempre “disposto” a pagar cinco vezes mais por uma lata de leite em
pó ou um cinto. Este que comprei em Dar es Salaam e paguei cinco vezes o preço.
É “compreensível” que os populares
tenham essa ideologia do branco colonizador e rico, mas daí a política estúpida
de separação ser incentivada por atos do governo é um absurdo sem eira nem beira
(afinal, o Museu é administrado pelo governo). Nada que umas aulinhas de
Direitos Humanos e uns anos de apoio externo (sincero e sem más intenções) não
resolva.
Pra falar de coisa boa, fiz o
primeiro saque pra investir no banheiro e na comida. O diretor não pôde ir ao
colégio e me ligou dizendo que as crianças não tem se alimentado adequadamente
porque a receita da comida está perto do fim. Com isso, amanhã mesmo vou dar um
upgrade nesse almoço com 50.000 (cinquenta mil shillings), coisa de 620 dólares.
Não adianta nada comprar livros se as crianças não estiverem mais lá.
Ainda fui fazer um exercício e dar uma corridinha.
Como estou na altitude e com o joelho todo bichado, o desempenho foi
vergonhoso. Sorte que adquiri uma corda aqui pra pular além da corrida, numa
tentativa de compensar o atleta das “pistas” (de asfalto e terra). Não estou
mais desnutrido como na Tanzânia, pelo contrário. To compensando os perrengues
no (fraco) jantar e tome feijão.
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