quinta-feira, 9 de maio de 2013

Voluntário Involuntário

O lance do roubo não passou em branco. Apesar de ter dito que foram apenas um shampoo e um desodorante, sumiram também cento e cinquenta euros e algumas pílulas de cafeína. Não parece ser nada demais, mas ter a sensação de insegurança no que deveria ser o seu porto-seguro não é nem um pouco bacana. Claro que comprei a briga e o ambiente da casa vai de mal a pior.

De tão desgostoso da residência, estou até reclamando com quem passou a faca da geleia na margarina e lambrecou o pote. É bobagem sim, mas parto da triste teoria de que não custa nada cada um agir pensando no bem-estar e no conforto do outro. A situação está crítica e suspeitar de tudo e de todos é insuportável de chato.

Não é vergonha nenhuma falar que me sinto só. Como nem só de alegrias se faz um intercâmbio, me decepcionei demais com todas as pessoas do Quênia. Intercambistas e da própria organização. Talvez um pouco por culpa minha, criei uma expectativa grande de que conheceria pessoas diferentes, com mentalidades diferentes e atitudes diferentes.

O ocorrido foi pela linha contrária. Pessoas com a mesma mentalidade vazia de farrear, encher os cornos de álcool e outras drogas, ouvindo as mesmas músicas, seguindo as mesmas tendências e tendo a mesma opinião. Não tenho nada contra o gosto particular de cada um. O que me incomoda é ver indivíduos alienados e sem qualquer forma de autoconhecimento.

Explico: é possível que no final das contas aquele cara realmente goste de música eletrônica. Mais do que possível, é provável que ele nunca tenha se questionado se esse é o seu gosto. Dessa maneira, as pessoas seguem tendências e compram ideias de felicidade que vêm “prontas”. É só abrir o seu “pacote alegria” pra gostar do que todo mundo gosta, ambicionar os mesmos objetivos e sonhar o mesmo sonho. Parabéns cidadão, você oficialmente não possui um traço de personalidade.

Entre mortos e feridos, não conheci uma alma disposta a dar o sangue pra fazer a diferença. Não me refiro ao pessoal da Childrock, que dão a vida pelo trabalho há mais de dez anos, mas às pessoas da AIESEC (de cá, as do Rio são espetaculares) e intercambistas que vem aqui de sacanagem, porque é bonitinho ou pra tirarem fotos.

Acaba sendo o voluntário involuntário. Para os intercambistas: qual a lógica de se comprometer com um trabalho, principal fator pra trazer a pessoa aqui, se essa motivação se torna a número quatro ou cinco? Brincadeira isso. Para o pessoal da AIESEC: qual o sentido de trazer estrangeiros se o impacto causado não é a missão principal?

Pelo menos a solidão é alimento pra várias lembranças sensacionais. Saudades não só da família, como da família que escolhi. Superado o desabafo e um cadinho da “sozinhez”, trago notícias espetaculares! Lembra daquele orçamento surreal de U$2.200,00 do banheiro? Recebi a atualização que pedi pro diretor da Childrock e fomos pra incríveis U$1667,31! Bem mais razoável, certo?

Ciente dos valores exatos pra iniciar o banheiro, providencias serão tomadas nos próximos dias. Como o banheiro era minha prioridade, eu precisava saber exatamente quanto gastaria pra poder administrar o restante sem prejudicar a obra. Assim, semana que vem com certeza teremos livros, progressos da obra e demais investimentos!

Pra fechar, vocês são incríveis! Depois de uma arrecadação linda ontem, hoje não ficou pra trás. Com isso, o nosso caixa passou de R$6.994,00 para increíbles R$7.760,60! Lembrem-se que após a contribuição, o projeto ganha um pedacinho de vocês e passa a ser sua iniciativa também. Extratos, planilhas e explicações, só pedir, sem problemas! Let’s GO!


Um comentário:

  1. O mais maneiro é de repente você voltar e ver que precisou ir longe para conhecer pessoas diferentes, que façam a diferença... mas acaba vendo que quem faz a diferença pode estar no seu próprio habitat!!!

    A vida de expectativa é essa... e só se desvenda vivendo!

    Abraçunda

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