sábado, 1 de junho de 2013

Calma Na Alma

Todos os intercambistas foram para a conferência da AIESEC no final de semana. Apesar da gratidão infinita à AIESEC pela oportunidade de realizar sonhos antes inalcançáveis, a reunião na verdade é um belíssimo pretexto para escutar discursos moralizados vazios e encher a cara. Não sendo fã de um nem dois, optei pela residência. Excelente escolha.

Até ia para Fourteen Falls, as quedas d’água, mas ouvi de três pessoas diferentes que nessa época do ano realmente não vale a pena. Quando vi as fotos, desanimei. E aí acabei ficando pela casa e curtindo um pouquinho a mim mesmo. Estava até com saudade desse cara bonito, bacana, gente boa que sou eu. Não faz essa cara não, preciso vender meu peixe, ué.

Reencontrei a paz. Deu tempo de curtir um silêncio, refletir sem ouvir gritaria de europeu, curtir uma bela música brazuca sem interferências externas e planejar os próximos dias, que serão a mil por hora. Ainda recebei um telefonema do Erick pedindo mais grana pro banheiro, mas até esse acréscimo estava dentro do orçamento. Don’t worry, be happy.

O único perrengue do dia foi ter perdido o cartão dentro do caixa eletrônico, depois de ter ido tirar dinheiro com a peça. Não é o mesmo da Childrock não, é outro. A máquina engoliu o cartão e até processou o pedido, mas cancelou a transação e resolveu ficar com meu precioso objeto de recordação. É o kinder-ovo queniano, cada dia uma surpresa mais gostosa que a outra.

Inaugurando nova série de reta final: assuntos africanos bons, mas que não mereciam uma publicação. O primeiro da série eu juro que é verídico. Fiquei discutindo com dois professores sobre Harry Potter. Não porque eles eram fãs da série, mas porque me prometeram de pés juntos que Hogwarts realmente existe, na Inglaterra. Meu papel foi ficar convencendo que não, que os livros são uma ficção. Que os ingleses não têm varinhas e recebem cartinhas depois de certa idade. Não sei se consegui.

Quando falei de religião, ainda me faltava conhecimento pra afirmar que a divisão céu versus capeta é o que dá o tom da reza no continente. Tudo que é bom e bonito é de Deus. Tudo que é feio e “diferente” do diabo. Então existe a igreja e a bruxaria. Sério, que nem idade média. E sim, “bruxaria” é crime. Se fosse por aqui, o menino que sobreviveu estaria curtindo um xilindró amarradão.

Essa evangelização da África foi implantada que nem um vírus. As células culturais passam a ver as próprias células culturais como inimigas. E todas as crenças e crendices vão sendo devoradas pelos ex praticantes das culturas que ahora abominam. Inteligente estratégia do desgraçado sem caráter que vem trazer a palavra de outro cidadão sem ser chamado.

No clima de sábado, aliviemos. Pole Pole Ndio Mwendo sempre. Que significa “devagar e certo”. No ritmo, tá na hora de editar uns vídeos e trabalhar na campanha. Estamos em deliciosos R$25.171,03. Mais de vinte e cinco mil reais. Engraçado pensar no imenso medo, ao lançar a campanha, de ser um fracasso. Podemos fazer mais até terça, mas dá pra comemorar até não aguentar mais. E pernambuquês pra alimentar a alma.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Apertado


Extra, extra! Nesta magnífica sexta-feira, acompanhe os informes da Childrock Initiative. Banheiro ganhou cara de banheiro e está quase pronto. Chegaram as mesas da molecada da pré-escola e foi lindo ver a reação deles às carteiras novas. Segunda-feira será fechado o acordo pela compra do terreno do colégio, maior investimento feito à instituição até então. O que é isso, meu camarada. Que alegria.

Em primeiríssimo lugar, matéria de capa, acertamos os valores em 380.000 shillings, aproximadamente U$4.750,00 (quatro mil setecentos e cinquenta dólares). Parece dinheiro à beça né? E é. Agora faz essa conta aqui: o colégio gasta 18.000 shillings mensalmente de aluguel. Quanto tempo levará até recuperarmos o investimento? Vinte e um meses! Falou 21? Bingo!


Isso significa que a compra do colégio irá economizar mais de cinco mil dólares em dois anos. Como se sabe, o valor aquisitivo de cinco mil dólares no Quênia é demasiado grande. Vai sobrar dinheiro pra pagar professores, garantir comida, renovar os livros e por aí vai. Mais do que dar dinheiro pra melhorar as condições, é fundamental contribuir para que a instituição possa correr sem amarras.

Olha a foto do banheiro. Dá pra ver um banheiro, não dá? E John também, o administrador. Não entendeu a foto, se explica: são três banheiros e um mictório. Por isso as divisórias. Não quero nada de fila na porta do toalete. Hora do intervalo é hora de tirar água do joelho e afins, sem condição de ficar esperando o coleguinha finalizar o serviço. Perder tempo de estudo em sala de aula é crime inafiançável. Já estou apertado.

Além de terem chegado belíssimas carteiras, deram o ar da graça pratos, garfos e copos que faziam parte do pacote “renovação da cozinha”. Colherzinha nova, pratinho arrumadinho e copo colorido. Não vai precisar esperar o colega finalizar sua refeição pra botar na garganta aquela colher usada. Todo mundo se deliciando junto, a verdadeira família Childrock.

Depois de uma sexta-feira digna de comemorações, não vou deixar barato. Dia de partir pro cinema, aquele negócio com uma tela grande, som bacana. Hora de umas belas risadas com Hangover 3 porque ninguém é de ferro. Vai dar pra encontrar uma rapaziada bacana e jogar uma conversa fora, no início do meu penúltimo final de semana queniano. Saudade de lá, saudade de cá. Eita.

Amanhã, devo dar um pulo em Fourteen Falls, atração turística da cidade. Como diz o nome, trata-se de queda d’água que se divide em quatorze cachoeiras. Esperem novidades pra mañana. Enquanto isso, a chuva cai lá fora e os valores se encontram na casa dos R$24.421,03. Pela cotação do dólar, cerca de onze mil dólares. Vocês, hein? Não existem! "The question is not when they gonna stop. But who is gonna stop them".


quinta-feira, 30 de maio de 2013

Dilma Vez Só

Ninguém mais, ninguém menos que Madame Presidenta deu o ar da graça pelo lindo continente que habitarei por mais onze dias. A convite da União Africana, representando a América Latina pela grandeza de nossa nação, Mrs. President decolou para Adis Abeba com Roberto Azevedo, recém-eleito diretor geral da OMC, para comemoração de cinquenta años da entidade.

Como boa politicagem não podia faltar, a viagem à capital da Etiópia serviu pra agradecer por todos os votos africanos que garantiram menino Roberto na direção da Organização Mundial do Comércio. Para estreitar os laços com a África, ainda foi criada uma diretoria no BNDES apenas com o propósito de celebrar parcerias econômicas. Tá, mas e daí Bruno?

Daí que alguns pontos me chamaram atenção. Como “representante” extraoficial brazuca na terrinha, sou quase que obrigado a dar o pitaco. Que será dado. Além da assinatura de cooperação em áreas de educação, ciência e tecnologia, tudo muito bonito no papel, a chefe Dilma vez só perdoou cerca de novecentos milhões em dívidas.

Só a Tanzânia devia coisa pouca de duzentos e trinta e sete milhões. Vale lembrar que o volume das negociações entre Brasil e nações africanas subiu de cinco bilhões em 2000 pra vinte e seis bilhões no ano passado. No discurso de Rousseff, “vantagens mútuas e valores compartilhados”. Gosto dos dizeres, mas tenho medo de algumas consequências e metodologias.

Primeiro, fui procurados por algumas pessoas preocupadas com o impacto causado na Childrock. Uma preocupação espetacular de que “o peixe não fosse dado, mas sim a vara de pescar”. Saco vazio não fica em pé, então a comida foi a nossa contribuição do “peixe”. Todo o resto mencionado ontem faz parte do pacote viabilizar a construção da “vara de pescar”.

Então, qual a vantagem de perdoar a dívida? Tornamos-nos “bonzinhos” aos olhos africanos, que legal. Serão concedidos novos empréstimos que culminarão em nova inadimplência, enquanto as competências administrativas dos líderes africanos continuam sendo tão nocivas quanto coca-cola com mentos. Uma mistura explosiva.

Melhor ainda, a Human Rights Watch, organização defensora dos Direitos Humanos ao redor do mundo, alertou para as péssimas condições de vida em que vivem mineradores moçambicanos que trabalham para famosa empresa brasileira. Em Angola, historia similar com construtora. Atitudes positivas e construtivas aos países, sempre. Sem pé nem cabeça, não.

Venho pressionando o diretor e administrador da Childrock para ter o orçamento da aquisição do terreno em mãos logo. Como essa é a prioridade número um, acho preferível esperar o máximo para saber quanto sobrará das contribuições após essa imensa (e imensamente necessária) despesa. Enquanto isso, a música toca em R$24.371,03. Sensacional, hein? Vamos que vamos!

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Cem


Cem publicações no blog, com mais de vinte mil visualizações. Alegria imensa de ter compartilhado todos os momentos com você que leu, gritou, chorou, ficou com raiva, riu à toa e se orgulhou junto comigo. Não sei se foi conspiração do universo, mas o dia que rendeu a centésima publicação foi um dos melhores dias da minha vida e “o melhor” (entre todos os melhores) da viagem. Vamos nessa.

Começou terrível. Com a falta de eletricidade e constantes idas e vindas, perdi o carregador do meu computador. Estourou. O que me obrigou a parar de usar o PC ontem de noite.  Acordei e constatei que bichinho estava morto e surtei. Não porque sou viciado em tecnologia, mas todos os dados e ações da campanha seguem rígido controle eletrônico. Deu ruim.

Pra completar, poucos sorrisos na rua e muitos pedidos de ajuda ao “Mzungu rico”. Um pessoal fazendo graça da sua cara sem motivo e o apelido de Jesus pra todo lado. Pra melhorar, nem notícias dos andamentos da obra, aquisição do terreno e por aí vai. Cabe mais? Cabe sim, uma dor de cabeça grande junto com febre deu a nota da manhã. Ô coisa boa.

De repente tudo muda. Chegando no colégio, sou recepcionado com professores e alunos preparados pra tirarem as fotos mais sensacionais da história do universo. Todos os alunos do colégio se juntam e fazem uma homenagem pra mim, com três oradores vindo à frente para agradecer publicamente por todos os livros, pela construção do banheiro, renovação da cozinha, comida, armário, mesas novas e por aí vai. E pra não chorar, como é que faz?

A fundação do banheiro está pronta, e os tubos serão conectados à rede de esgoto amanhã. A estimativa é de que esteja pronto na terça-feira que vem, dia que acaba a campanha. Não se esqueça que você só tem mais seis dias pra contribuir! Pra melhorar, as mesas das crianças da pré-escola ficaram prontas e o armário chegou.

Há uma estimativa de 400.000 shillings, cerca de cinco mil dólares, pra aquisição do terreno agora. A digníssima proprietária havia subido para o dobro disso quando soube que havia um branco no financiamento, mas após algumas conversas e negociações considerou baixar o preço e deve baixar ainda mais. O que significa que será viabilizada a maior ajuda que a Childrock já recebeu.

Ainda deu tempo de dar uma volta pela cidade com Erick e um camarada seu pra consertar o computador, me economizando uma bela grana. Voltar pra casa andando, tomar um chá (feito com leite) pra melhorar a tarde e chegar em casa com eletricidade rolando. Ah, e sendo cumprimentado positivamente por várias pessoas na rua. Começo a suspeitar que a opinião sobre os olhares dos outros são enxergados de acordo com meu humor ou da forma que quero ver.

Os livros estão sendo encapados (para conservação), os investimentos na compra do terreno estão num horizonte próximo e tudo corre da melhor maneira possível. Quero fazer dos últimos treze dias de Nairóbi uma verdadeira revolução. E vamos fazer. Pra atualizar, chegamos aos incríveis e impressionantes R$22.771,03. Obrigado a todos, acompanhem, divulguem e compartilhem! Pra quem ainda não sabe (tá atrasado), a campanha é essa!

terça-feira, 28 de maio de 2013

Falador

Impressionante a velha máxima: não importa o que você faça, sempre terá vagabundo com inveja trabalhando contra. Seja direta ou indiretamente, vai estar lá aquele “camarada” que não só torce contra, mas atua contra. Como não podia ser diferente nem com um trabalho voluntário bacana no Quênia, por aqui tem algumas peças raras que deram o ar da graça.

Depois de falar dos Voluntários Involuntários e de toda a galerinha “pouco comprometida” que encontrei, destaque especial vai pro coleguinha do país nórdico. Pra quem não lembra ou não leu as peripécias do menino, dá um clique aqui e retorne. Ou então continua assim mesmo, mas o cidadão é um fanfarrão sem noção de primeira qualidade.

Eis a questão. Não curto sair por aqui por vários motivos: não consigo gastar dinheiro “à toa” depois de ver a situação de vida na favela; não posso nem quero perder um pingo de consciência pra não tomar uma rasteira de vários lados; “acabou” o dinheiro (tenho o suficiente pra sobreviver até a volta); não tenho saco pra rapaziada com ideologia “cabeça de girino”; e por aí segue a canção. É difícil pra galera daqui entender a minha posição, mas não faz diferença, certo?

Sempre digo que vou sair, mas nunca saio. Pra ficar trabalhando nos vídeos, pensando numa forma nova de divulgação ou pra me divertir sozinho, muito mejor que aturar sujeito bêbado por todos os lados. Então prometi que iria ver a final da UEFA, mas não fui por falta de paciência. Cometi esse grave crime e trouxe os críticos à porta.

Ouvi dizerem que não confiavam mais em mim, já que eu sempre dizia que sairia mas nunca cumpria a palavra no final das contas. Por não se enquadrar ao rebanho da “girinada”, deixei de ser cool. Caramba, que chateação (irônico). Até ai não me incomoda. Surge o nórdico dizendo que eu poderia até estar desviando dinheiro da arrecadação por não ser confiável. Aí não. Aí vai dar problema.

Tinha algumas formas diferentes de resolver. Podia aplicar a filosofia das aulas de Muay Thai com mestre Guilherme, mas nunca briguei na vida e não seria agora; podia chegar gritando, acusando e arrumando confusão, destruindo ainda mais o frágil clima da casa; ou podia trocar ideia numa boa, falando manso e como quem não quer nada, sobre o motivo daquilo tudo ter acontecido.

Optei pela última forma de comunicação, a mais sábia pra todos os problemas. Não é fácil, quando o sangue sobe diante tais acusações, mas ser “superior” e razoável vale a pena. É sinônimo de não se rebaixar ao nível, clichê máximo. “Não se misture com essa gentalha, tesouro”. Consequência: um pedido de desculpas sincero, afirmando estar bêbado e com raiva pela falta ao jogo da UEFA.

É, patrão. Não é brinquedo não. Além de administrar os recursos e tocar a campanha, resolver picuinha dentro de casa pra poder viver em paz. O engraçado é que é simples demais viver em felicidade. É só não fazer besteira. Exige um “não fazer”, se abster de avacalhar a casa e incomodar os outros. Parece que falador faz questão de dificultar. Notinha da campanha: estamos aguardando negociações entre Erick e a proprietária do terreno pra concluir a maior operação de ajuda da história da Childrock (palavras do diretor e do administrador). Será épico se atingirmos isso. E vamos atingir.

P.S. Bernardo Ribeiro, meu irmão de outra mãe, está participando de uma campanha do Botafogo pra jogar com o time. Não precisa de contribuição não, só do clique! Quem puder ajudar meu grande camarada a realizar esse sonho de criança, só clicar aqui e votar nele. O moleque que nunca pensou em jogar com o próprio time não teve infância, então colabore com o botafoguense!

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Meia-Volta


Ufa. Depois de estar sem água, sem luz e sem internet desde sábado de madrugada, estamos de volta. Nada como uma vida desprovida de recursos pra voltar a apreciar a água caindo fria do chuveiro, a lâmpada acessa em cima de cabeça e uma conexão com o resto do mundo através desse belo aparelho chamado modem. Parabenize seus pais. Eles se formaram sem o Google.

No domingo, fui pra Westlands resolver finanças da Childrock (sacar tutu da máquina) e tive uma grata surpresa. Passei numa galeria e parei par comprar sorvete. Por ser domingo, o sorvete era só cinquenta shillings (coisa de 70 centavos de dólar). Sorvete, que delicioso prazer. Fartei-me da casquinha até sobrar apenas um sorriso pra contar história.

Pouca coisa boa aconteceu nesse domingo, exceto a edição de vários vídeos de vocês que devo mandar amanhã mesmo. Ah, e o sorvete. Além, Erick teve uma conversa telefônica com a cidadã dona do terreno, que admitiu sentar e negociar valores. Basta aguardar uma proposta razoável, sinalizando os valores máximos para a possível aquisição, enquanto vamos planejando outros investimentos.


Coisa pouco boa foi a necessidade de se trocar o “engenheiro” do banheiro por estar demorando muito na obra e retendo o salário dos operários. Ainda assim vai ficar pronto antes do meu retorno pra terrinha, certamente. Como estava sem recursos em casa, parti pra outra casa de intercambista pra me banhar e por em prática a tecnologia da internê. Bacana, bacana.

Boa pouca coisa ninguém quer. Por isso mesmo, 50.000 shillings foram investidos no banheiro, totalizando 120.000 no total (70 antes, 50 agora) e mais 20.000 na aquisição de dez mesas novas pros alunos e um armário para guardar o material escolar da turminha da pré-escola. Os investimentos somam 315.000 shillings, coisa de U$4.000,00. A ordem é aguardar o valor da compra do terreno pra saber o quanto sobrará e será alocado em outras despesas.

Tive ainda hoje um “jantar global” em que representantes de cada país deveriam levar um prato típico. Como eu sou tão bom em cozinhar como em luta Greco-romana, comprei meia dúzia de biscoitos no mercado e jurei de pés juntos que todo mundo come isso pelo Brasil. Imploraram por brigadeiro, mas leite condensado por aqui é mais raro que político honesto.

Conheci colombianos, italianas, norueguesas, alemães e mais. Acabou que foi espetacular o evento e rendeu uma bela alimentação pelo preço de cookies baratos (e com boa companhia). Desde arroz doce indiano até o bom e velho Chapati do Quênia, teve de tudo. Não faltou a famosa KK, Kenyan Kane, dando aos ébrios da noite à pretensão de pensar que despertar os vizinhos chineses ao lado não geraria represálias. No melhor estilo Sexto Sentido: I see Chinese people.


Amanhã é o dia da foto com os livros, dia de cobrar o andamento do banheiro, dia de seguir adiante com o projeto. Quatorze dias pra chegar na residência de mamãe. A notícia não tão boa é que o projeto se aproxima do fim e será encerrado daqui a UMA semana, terça feira que vem. A corrida vem sendo linda, mas tudo chega ao fim. O que significa que você tem apenas uma semana pra dar a sua contribuição e mudar o destino de uma ou mais crianças. Tá esperando o quê? Contribua logo pra campanha! Atualização: R$20.731,03.

sábado, 25 de maio de 2013

Inspiração e Conselho


Nessa manhã assisti ao vídeo acima, que me chamou muita atenção. Zachary Sobiech era um menino bacana, solidário e sonhador que, aos 14 anos, foi diagnosticado com osteossarcoma, uma espécie de tumor que ataca os ossos. Depois de meses de quimioterapia e cerca de dez cirurgias, os médicos disseram a ele que só teria mais um ano de vida pela frente. Barra muito pesada pra um garoto tão novo e cheio de ambições.

Ao invés de se revoltar com a situação, Zach resolveu fazer exatamente o oposto. Pensou numa forma de aproveitar o seu último ano de vida, correndo atrás do que sempre sonhou. Investiu em música, gravou um cd, deu show e ainda foi homenageado por vários artistas que regravaram a sua composição. O menino realizou mais em um ano do que muita gente realiza numa vida inteira.

Não preciso dizer que chorei feito um condenado. Não foi por isso que o vídeo chamou atenção, até porque o troféu manteiga derretida vai pra mim fácil. Esse moleque, que veio a ir Up, Up, Up no dia vinte de maio desse ano (cinco dias atrás), deixou uma mensagem espetacular pra todo mundo. Que é uma das mensagens que eu mais me preocupo em passar pelo blog.

O bordão de Zach no documentário é: “você não precisa saber quando vai morrer pra começar a viver”. O que isso significa? Estou respirando, estou vivo, não é isso? Não. Claro que não. Lógico que não. Concordo que o conceito de estar vivo depende da área e os médicos podem assumir que a pessoa está viva a partir da respiração e de outros sintomas. Essa perspectiva está bastante desatualizada.

Estar vivo é muito mais do que respirar, ter uma rotina, comer um prato gostoso ou andar pelo mundo. Estar vivo exige ser e fazer o que se ama. Profissionalmente, pessoalmente. O tempo todo, sempre. Não significa não ter problemas ou aborrecimentos, porque eles estarão lá. Os obstáculos existem e não são poucos. Jamais podem ser utilizados como desculpa para optar pelo conformismo e comodidade.

Falando por mim, esbarrei em várias pedreiras pra vir pra cá. “Você precisa se estabilizar depois de formado”, “não há tempo pra fazer isso, pensa no currículo”, “vai jogar tempo da sua vida pela janela”, “acho até legal, mas nunca faria e acho maluquice”. Apesar de tudo e todos, absolutamente nada paga a paz de espírito de ter tomado a sua decisão. Sua. Ainda mais depois de ter a maior certeza de que foi a melhor escolha que poderia ter sido feita.

Não foi fácil, claro. A solução foi olhar direto pra vontade imensa de estar aqui e sair tropeçando e removendo (ou até atropelando) todas as barreiras existentes. No final das contas, todos os percalços se voltaram a meu favor. Quem e o que foi contra está agora ao meu favor. Tudo isso porque resolvi seguir meu coração e fazer alguma coisa pela qual sou apaixonado de corpo e alma.

Obrigado ao Zach que deixou seu recado pro mundo, servindo de inspiração pra milhões de pessoas. Se eu pudesse dar um conselho, só um, dentre os vários aprendizados africanos, seria exatamente o mesmo dado por Zach: “comece a viver”. Invista no que você ama e naquilo que vai te fazer feliz o resto da vida. Pode parecer clichê, mas é a verdade mais verdadeira e necessária do mundo. Não tem desculpa. The time is now. A hora chegou. R$20.181,03 e atingimos a meta de vinte mil em dois dias. Increíble!