quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Gota D'Água


A campanha vai excepcionalmente bem. Toda a experiência africana tem sido de um conhecimento ímpar. Eu tenho milhões de motivos pra estar sorrindo, mas ainda assim, algo incomoda. E mesmo no meio de tanta paz e tanta alegria, uma pontadinha de insatisfação pode ser chata demais. É como se eu estivesse comemorando um título de Copa do Mundo e uma abelha viesse perturbar bem na hora do apito final.

A proprietária da casa em que moro fez um acordo com o pessoal da AIESEC de cá pra que os intercambistas pudessem pagar um preço bem mais em conta com direito a café da manhã, jantar e uma senhorinha mandando ver nas roupas uma vez por semana. Até aí, maravilha. Comida, cama e roupa lavada.

Infelizmente, a minha insatisfação com os outros intercambistas não é de hoje. Primeiro pela ideologia mequetrefe que se encontra em qualquer esquina. Não vieram pra cá ajudar, vieram cumprir mil objetivos pessoais em primeiro plano pra depois lembrar que estão aqui por isso. Não posso fazer nada quanto a isso a não ser conviver em paz.


Acontece que alguns destes indivíduos alopram a harmonia da casa e como ninguém tem disposição de tomar a frente e reclamar, seja o pessoal da AIESEC ou os administradores da residência, o Bruno vira o cara chato e reclamão pra qualquer assunto. E se tiverem que reclamar com alguém, o Bruno que pediu. Então o Bruno é gente boa, mas irritadinho com qualquer assunto.

Claro, sem dúvidas eu sou fresco. Alguns exemplos: o assento do vaso sanitário foi quebrado; o meu sabonete sendo usado por outros; “feze”, no singular mesmo, aparecendo no rolo de papel higiênico supostamente limpo; a galera sem qualquer noção de higiene chegando suada e fedendo feito porco, se espalhando nos móveis; geleia à beça no pote de manteiga, etc.

Ah, normal Bruno, acontece. Claro, acontece. Vamos subir de nível? O camarada trazendo prostituta pra dentro de casa; chegando bêbado feito gambá, perturbando os outros e quebrando as coisas; a cidadã que no primeiro dia de Quênia caiu dentro do moreno e agora traz o amigo pra jantar da minha comida dia sim, dia também, etc.

Ok, mas por que isso agora? Pelo seguinte episódio: fui sair de casa pra sacar dinheiro pro projeto (amanhã começa o banheiro, lembra?) e na porta, fui abordado pelo camarada que disse trazer a meretriz pra dentro de casa de novo e não queria nem saber as regras. Depois de ter dado uma bonita surra argumentativa no nórdico que não teve o menor respeito ou educação, aceitei (transtornado) botar a menina pra dentro da casa.

Voltando, entro em casa e sou obrigado a ficar na sala, já que o amigo se encarregou de ir direto aos aposentos para fornicar, sem nem dar boa tarde. Assim, ficou Bruno sentado no sofá, raivoso, esperando o digníssimo finalizar seu acasalamento no mesmo quarto que guardo todos os meus bens e pertences. Bacana, né?


Por todo o exposto, vou me mudar, é sério. Tem outra casa da AIESEC pra ir, fiquem sossegados. Já que eu sou o reclamão e estou começando a ficar incomodado inclusive comigo mesmo, por saber que estou chato (sem escolha), os incomodados que se mudem, certo? Se não dá pra botar ordem no prostíbulo, a solução é partir pra outra residência. Cenas dos próximos capítulos em breve que agora eu to até com dor de cabeça.

Um comentário:

  1. É meu amigo, machané em plena Nairobi... QUE DELÍCIA!!!
    Você está mais que certo.

    Ser chato por querer viver no organizado, limpo e cheiroso... Que o mundo seja dos chatos!!!

    Abração meu irmãozinho e todo sucesso do mundo na campanha...

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