Dentro dessa loucura toda que é a
viagem, tive a oportunidade de entrar em contato com várias nacionalidades.
Algumas por mais tempo, outras por menos. Indianos, alemães, holandeses,
australianos, chineses, mais alemães, japoneses, tanzanianos, quenianos,
chineses de novo, noruegueses e canadenses. Provavelmente ainda me esqueci de
alguns.
Conheci várias culturas, troquei
milhões de ideias sobre a vida e explorei vários cheiros, contatos e sabores.
Pra quem era meio fresco com comida, hoje tomo sopa de pedra lambendo os
beiços. Ao mesmo tempo, descobri que a sociedade brasileira é de uma riqueza
absurda, em inúmeros sentidos. Sobre vários países, tirei diversas conclusões.
Algumas boas, algumas ruins. Algumas chinesas.
Pra começar a falar dos outros,
nada melhor do que falar de si. A diversidade cultural brasileña é absurda e
conseguimos experimentar de quase tudo, o que nos dá uma bela vantagem em
relação aos outros. A música (tente definir a MPB, é quase impossível) aliada
com uma variedade incrível no cardápio, fora hábitos, costumes e maneiras de
pensar são gigantescos.
Por outro lado, percebi que cada
país tinha exata noção da sua identificação cultural. Não que nós não tenhamos,
mas são tantas as possibilidades de se encaixar ou de optar por uma forma de
expressão que não cabe numa só saudade. Sinto falta do peixe e da carne, do
samba e da MPB, da cultura das mil opiniões sobre tudo, no esquema metamorfose
ambulante (toca Raul). Isso pra começar com a definição do meu Brasil. Cada um
que faça a sua própria.
Os alemães são quase um oposto a
tudo. Conheci vários e acredito que essa parte da África seja um dos destinos
preferidos dos amigos de Ângela, de repente em função da colonização que passou
por acá. Muito reservados e sem dar muita trela pra nada, a conversa com um
alemão é quase um monólogo. Você faz o que? Isso. E gosta do que? Disso. Vai
ver não existe “e você” em alemão, o que é uma pena. Ou vai ver eu que era
chato perguntando tudo.
O trabalho na Tanzânia exigia
contato com a alemã vinte e quatro horas por dias, afinal era trabalho juntos e
casa juntos. O curioso é que ela não gostava dos alemães. Falava que eram todos
frios, sem graça e sem se comunicar ou se preocupar com o outro. Ao mesmo
tempo, madame vivia fechada, de cara emburrada. Era piada o dia inteiro pra
tirar ela do sério, e nem sempre com sucesso.
Calma que nem tudo são espinhos. A disciplina alemã
e a metodologia são impecáveis. Todos os dias antes das aulas ela preparava
cuidadosamente cada parte da aula. Se alguma coisa fugisse do curso normal, era
um stress imenso. Ao contrário, seu compadre brazuca, vulgo eu, é um homem da
arte do improviso. Então acabava fazendo um arroz com feijão bacana.
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