Toda sexta-feira não tem trabalho
no colégio, então o dia fica a critério das aulas de suaíle pros
intercambistas, bem como da ida ao Kenyatta Hospital pra fazer o dia das
crianças com câncer (e outras doenças) um pouquinho mais agradável. Pela
segunda tarefa, meu dia se tornou especial. Ainda bem que essa recreação e
ajuda irá se repetir por semanas.
Acordei tarde e fui pra aula de
suaíle. Chegando lá, não havia ninguém. Nem esperando pela aula, nem esperando
por alunos. As classes normalmente são no próprio escritório da AIESEC dentro
da University of Nairobi. Pro meu azar, decidiram cancelar a aula do nada sem
avisar ninguém. Acredito que por terem poucos voluntários, fica mais fácil
aloprar a lição de suaíle sem qualquer comunicação.
Depois de esperar cerca de duas
horas dentro do escritório, algumas pessoas apareceram e dentre elas, Victor, o
camarada que me levou pro hospital. Chegando ao local, faltou uma trilha sonora
de desolação e destruição. As instalações com vidros quebrados, pessoas com
todos os tipos de doenças andando pelas escadas e corredores em busca de
alguém.
Quem é médico e decide vir pra cá
fazer alguma coisa é mais forte do que qualquer Hulk. Pra quem pensa nesse lindo caminho, fica a ideia. Eu sinceramente não teria
condições de conviver nesse ambiente e as três horas de brincadeiras e sorrisos
me matavam por dentro a cada tique do relógio. Era como se o ar fosse acabando,
me sufocando. Respirar, mais que nunca, era necessário.
Nessas situações, é (e foi) preciso
tirar força do chão. Dizem que quando se chega perto da morte, até o ateu vira
religioso e pede perdão a Deus. Essa passada pelo hospital gera alguns
questionamentos religiosos e faz você apelar pra qualquer entidade religiosa
existente. Escolha uma religião e peça. Peça pra que alguém bote o olho ali e
faça algum milagre. Mas pede com vontade, porque não é fácil.
Numa das brincadeiras, as crianças desenhavam
o que quisessem e um desenho relacionado à morte me chamou a atenção. Nele, uma
pessoa era fuzilada pela outra. Questionei o por quê daquele desenho e ouvi que
era a vida. Entrei no desenho e tomei um tiro psicológico. Uma criança de menos
de dez anos explicando a vida como... a morte.
Depois, fui ensinar português pra algumas
meninas. Aproveitei a chance e pedi pra aprender algumas palavras em suaíle. A
primeira ensinada foi sindano.
Significa agulha. Provavelmente é uma palavra que está na ponta da língua, em
função da rotina hospitalar pela qual atravessam várias crianças. Tentei
desviar o assunto, mas era tarde. Havia sido baleado novamente.
Atualização: R$4.897,00 e U$650.
Atualização: R$4.897,00 e U$650.
Nenhum comentário:
Postar um comentário