Todo dia é dia que “que dia” e hoje
não foi diferente. Acordando as seis da manhã pra trabalhar no projeto pelo
qual estou apaixonado, só fui chegar em casa depois das oito. Depois de
quatorze horas espetaculares, ainda fui recompensado pelo cozinheiro com um
peixinho espertíssimo de jantar. Fatos, Bruno, cadê os fatos? Vamos nós.
Chegando ao colégio, vi uma coleção
imensa de livros em caixas pra todas as séries. Como disse ontem, o diretor
encomendou vários de um amigo que fazia desconto e só precisei passar o cheque.
Não sem conferir o valor e a existência de cada um deles numa lista meticulosamente
detalhada. Faltava o trabalho de organizar quais já tínhamos e quais ainda
precisávamos comprar.
Com nota fiscal e recibo, passei o
valor de 76.327 shillings ao diretor pra bancar a aquisição. Arredondei pra
80.000 pra cobrir despesas adicionais da obra. A alegria por ver a realização
dos livros era tamanha que nem esquentei quando, depois de visitar o banheiro
(que tá ficando bonito de ver), enfiei a perna num poço de fezes até o meio da
canela. Isso porque foi a segunda vez. Não parei de sorrir, apesar de ter
passado o dia inteiro fedendo à esterco de gente.
Depois da supervisionada clássica
no toalete, partimos rumo à cidade pra “se livrar”, que significa se encher de
páginas de cultura e conhecimento. Não só pelos livros, mas também por material
escolar pra toda a molecada mais amada do Quênia. Falando nos alunos, consegui
gravar muitos vídeos pra editar (e entregar pra vocês), mas me espantei ao
mostrar uma foto das minhas irmãs e ser questionado o que significava aquele
objeto na boca da minha irmã. Era a chupeta. Caramba.
E tome mais (aproximadamente) 30.000 shillings
no resto dos livros. E tome mais 10.000 de material, incluindo quarenta caixas
de giz, lápis, caneta, cadernos, um White
Board, livros de controle de presença de alunos, cartolina e mais. Ah, e olha o local pra cozinhar que foi renovado. Total de
245.000 shillings investidos, pouco mais de U$3.000,00. Pra dar uma pausa na
campanha, olha só a sequência de fatos que demonstra mais ou menos a insanidade
que é Nairóbi.
No ônibus pra cidade, comprei um pedaço
de abacaxi e fiquei todo babado. Ao mesmo tempo, o Matatu (“ônibus”) deixou
cair uma sacola no chão (estava amarrada no teto) e dentro de trinta e quatro
milésimos, cerca de cinquenta quenianos se esbofetearam pra ver quem ficava com
os restos mortais do falecido saco. A polícia partiu pra dentro atirando aquele
gás gostoso de confusão no Maracanã, ao mesmo tempo em que a senhorinha do meu
lado perguntava por que eu não fazia a barba. Bem-vindo ao Quênia, se segura
malandro.
O dia ainda teve um ingrediente
espetacular e essencial. Como o objetivo dos investimentos é deixar um legado a
longo prazo, descobri que o aluguel do terreno de 18.000 shillings mensais está
atrasado. A proprietária ficou uma arara depois de descobrir que a Childrock
não pagava aluguel mas construía banheiros, mesmo que uma coisa não tenha nada
a ver com a outra.
E aí o John, aquele do vídeo, perguntou por que
não comprar o terreno pra escola. Exige sim um estudo mais detalhado sobre as condições
do terreno e por ai vai, mas aliviar um gasto grande mensal pro colégio
deixaria um legado bacana, possibilitando pagar professores e alimentar as
crianças sem ter que se preocupar em quitar o aluguel. Caro, mas viável.
Afinal, estamos em R$19.079,96. Nada como chegar perto dos R$20.000 com menos de
um dia de proposta, hein? Não para, não para, não para!
Nenhum comentário:
Postar um comentário