O lance do roubo não passou em
branco. Apesar de ter dito que foram apenas um shampoo e um desodorante, sumiram
também cento e cinquenta euros e algumas pílulas de cafeína. Não parece ser
nada demais, mas ter a sensação de insegurança no que deveria ser o seu
porto-seguro não é nem um pouco bacana. Claro que comprei a briga e o ambiente
da casa vai de mal a pior.
De tão desgostoso da residência,
estou até reclamando com quem passou a faca da geleia na margarina e lambrecou
o pote. É bobagem sim, mas parto da triste teoria de que não custa nada cada um
agir pensando no bem-estar e no conforto do outro. A situação está crítica e suspeitar
de tudo e de todos é insuportável de chato.
Não é vergonha nenhuma falar que me
sinto só. Como nem só de alegrias se faz um intercâmbio, me decepcionei demais
com todas as pessoas do Quênia. Intercambistas e da própria organização. Talvez
um pouco por culpa minha, criei uma expectativa grande de que conheceria
pessoas diferentes, com mentalidades diferentes e atitudes diferentes.
O ocorrido foi pela linha
contrária. Pessoas com a mesma mentalidade vazia de farrear, encher os cornos
de álcool e outras drogas, ouvindo as mesmas músicas, seguindo as mesmas tendências
e tendo a mesma opinião. Não tenho nada contra o gosto particular de cada um. O
que me incomoda é ver indivíduos alienados e sem qualquer forma de
autoconhecimento.
Explico: é possível que no final
das contas aquele cara realmente goste de música eletrônica. Mais do que
possível, é provável que ele nunca tenha se questionado se esse é o seu gosto.
Dessa maneira, as pessoas seguem tendências e compram ideias de felicidade que
vêm “prontas”. É só abrir o seu “pacote alegria” pra gostar do que todo mundo
gosta, ambicionar os mesmos objetivos e sonhar o mesmo sonho. Parabéns cidadão,
você oficialmente não possui um traço de personalidade.
Entre mortos e feridos, não conheci
uma alma disposta a dar o sangue pra fazer a diferença. Não me refiro ao pessoal
da Childrock, que dão a vida pelo trabalho há mais de dez anos, mas às pessoas
da AIESEC (de cá, as do Rio são espetaculares) e intercambistas que vem aqui de
sacanagem, porque é bonitinho ou pra tirarem fotos.
Acaba sendo o voluntário
involuntário. Para os intercambistas: qual a lógica de se comprometer com um
trabalho, principal fator pra trazer a pessoa aqui, se essa motivação se torna
a número quatro ou cinco? Brincadeira isso. Para o pessoal da AIESEC: qual o
sentido de trazer estrangeiros se o impacto causado não é a missão principal?
Pelo menos a solidão é alimento pra
várias lembranças sensacionais. Saudades não só da família, como da família que
escolhi. Superado o desabafo e um cadinho da “sozinhez”, trago notícias
espetaculares! Lembra daquele orçamento surreal de U$2.200,00 do banheiro? Recebi
a atualização que pedi pro diretor da Childrock e fomos pra incríveis
U$1667,31! Bem mais razoável, certo?
Ciente dos valores exatos pra
iniciar o banheiro, providencias serão tomadas nos próximos dias. Como o
banheiro era minha prioridade, eu precisava saber exatamente quanto gastaria
pra poder administrar o restante sem prejudicar a obra. Assim, semana que vem
com certeza teremos livros, progressos da obra e demais investimentos!
Pra fechar, vocês são incríveis! Depois de uma
arrecadação linda ontem, hoje não ficou pra trás. Com isso, o nosso caixa
passou de R$6.994,00 para increíbles R$7.760,60!
Lembrem-se que após a contribuição, o projeto ganha um pedacinho de vocês e
passa a ser sua iniciativa também. Extratos, planilhas e explicações, só pedir,
sem problemas! Let’s GO!
O mais maneiro é de repente você voltar e ver que precisou ir longe para conhecer pessoas diferentes, que façam a diferença... mas acaba vendo que quem faz a diferença pode estar no seu próprio habitat!!!
ResponderExcluirA vida de expectativa é essa... e só se desvenda vivendo!
Abraçunda