sexta-feira, 24 de maio de 2013

Se Livrando

Todo dia é dia que “que dia” e hoje não foi diferente. Acordando as seis da manhã pra trabalhar no projeto pelo qual estou apaixonado, só fui chegar em casa depois das oito. Depois de quatorze horas espetaculares, ainda fui recompensado pelo cozinheiro com um peixinho espertíssimo de jantar. Fatos, Bruno, cadê os fatos? Vamos nós. 


Chegando ao colégio, vi uma coleção imensa de livros em caixas pra todas as séries. Como disse ontem, o diretor encomendou vários de um amigo que fazia desconto e só precisei passar o cheque. Não sem conferir o valor e a existência de cada um deles numa lista meticulosamente detalhada. Faltava o trabalho de organizar quais já tínhamos e quais ainda precisávamos comprar.

Com nota fiscal e recibo, passei o valor de 76.327 shillings ao diretor pra bancar a aquisição. Arredondei pra 80.000 pra cobrir despesas adicionais da obra. A alegria por ver a realização dos livros era tamanha que nem esquentei quando, depois de visitar o banheiro (que tá ficando bonito de ver), enfiei a perna num poço de fezes até o meio da canela. Isso porque foi a segunda vez. Não parei de sorrir, apesar de ter passado o dia inteiro fedendo à esterco de gente.

Depois da supervisionada clássica no toalete, partimos rumo à cidade pra “se livrar”, que significa se encher de páginas de cultura e conhecimento. Não só pelos livros, mas também por material escolar pra toda a molecada mais amada do Quênia. Falando nos alunos, consegui gravar muitos vídeos pra editar (e entregar pra vocês), mas me espantei ao mostrar uma foto das minhas irmãs e ser questionado o que significava aquele objeto na boca da minha irmã. Era a chupeta. Caramba.

E tome mais (aproximadamente) 30.000 shillings no resto dos livros. E tome mais 10.000 de material, incluindo quarenta caixas de giz, lápis, caneta, cadernos, um White Board, livros de controle de presença de alunos, cartolina e mais. Ah, e olha o local pra cozinhar que foi renovado. Total de 245.000 shillings investidos, pouco mais de U$3.000,00. Pra dar uma pausa na campanha, olha só a sequência de fatos que demonstra mais ou menos a insanidade que é Nairóbi.

No ônibus pra cidade, comprei um pedaço de abacaxi e fiquei todo babado. Ao mesmo tempo, o Matatu (“ônibus”) deixou cair uma sacola no chão (estava amarrada no teto) e dentro de trinta e quatro milésimos, cerca de cinquenta quenianos se esbofetearam pra ver quem ficava com os restos mortais do falecido saco. A polícia partiu pra dentro atirando aquele gás gostoso de confusão no Maracanã, ao mesmo tempo em que a senhorinha do meu lado perguntava por que eu não fazia a barba. Bem-vindo ao Quênia, se segura malandro.

O dia ainda teve um ingrediente espetacular e essencial. Como o objetivo dos investimentos é deixar um legado a longo prazo, descobri que o aluguel do terreno de 18.000 shillings mensais está atrasado. A proprietária ficou uma arara depois de descobrir que a Childrock não pagava aluguel mas construía banheiros, mesmo que uma coisa não tenha nada a ver com a outra.


E aí o John, aquele do vídeo, perguntou por que não comprar o terreno pra escola. Exige sim um estudo mais detalhado sobre as condições do terreno e por ai vai, mas aliviar um gasto grande mensal pro colégio deixaria um legado bacana, possibilitando pagar professores e alimentar as crianças sem ter que se preocupar em quitar o aluguel. Caro, mas viável. Afinal, estamos em R$19.079,96. Nada como chegar perto dos R$20.000 com menos de um dia de proposta, hein? Não para, não para, não para!

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