terça-feira, 2 de abril de 2013

Abre Fecha


Um dos grandes dilemas do meu convívio aqui parte de uma conversa que tive com um irmão meu enquanto estava na faculdade. Por sermos muito diferentes em termos de comportamento, falamos sobre a expressão facial cotidiana. Quais seriam as vantagens de se andar com a cara aberta e sorrindo o tempo todo e qual o problema disso? Por outro lado, vale a pena fechar a cara e parecer sério?

Nesse debate, eu defendia o sorriso largo. Se o mundo fosse o tempo todo sorridente, todos se amando e se curtindo e se sorrindo, imagina que beleza. Abrir a sua expressão e mostrar os dentes pra quem quiser ver é pra mim uma forma muito bacana de estar  “conectável” e disponível pra várias situações e surpresas que a vida tem a oferecer.

No lado negro da força, meu camaradasso insistia na sua cara de mau como forma de sobrevivência. As pessoas supostamente querem sempre tirar vantagem de você te explorando e essa expressão fechada garante que pelo menos os outros cogitem não mexer contigo. Essa seria uma maneira de garantir a sua tranquilidade e permanecer intacto em territórios hostis.

Essa conversa veio a calhar pela rotina do lado leste africano. Muitas vezes, se me comporto como gostaria e saio distribuindo sorriso pra todo lado, acabo me tornando presa fácil pra ação de ladrões, guias turísticos e vendedores querendo cobrar mais caro. Quando faço cara de mau, que não é lá muito boa mas quebra um galho, acabo afastando os predadores africanos de moi.

Infelizmente, pratiquei a ideia da cara fechada nos últimos dois dias e não fui feliz. Primeiro porque não conseguia me sentir bem olhando torto pra cidade inteira. Segundo, essa atitude me transformou de tal forma que passei a ser grosso e estúpido até com quem estava do meu lado, sem a menor intenção. Sair dando tapa na cara dos amiguinhos de bobeira não é correto.

Fui me dar conta disso na segunda-feira na verdade. Fiquei o dia inteiro com a cara fechada e ninguém chegou perto. Deu certo e deu errado. Deu certo porque o sistema funcionou e passei o dia “sozinho”. Deu errado porque perdi várias risadas e oportunidades de lançar aquele sorrisão de alegria por ter passado por inúmeras situações inimagináveis.

Aceito sugestões, mas acho que a maior parte dos amigos e até parentes irão sugerir o lobo mau. Claro que garante a integridade física melhor do que na amizade, mas isso significaria deixar o idealismo de lado. Se existe qualquer vontade de construir uma sociedade melhor e mais integrada por acá, o começo deve ser instaurando (ainda que com um gesto mínimo) o regime da camaradagem popular. Pra fechar, um sorriso barbudo pra você!

4 comentários:

  1. Sou pró sorriso! Meu sorriso brasileño me rendeu 100 shillings no taxi na volta pra casa. Numa chuva surreal e um engarrafamento louco. Se seu lance é o sorriso, preserve sua vibe. Nairobi te espera
    besos

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    1. Mas é claro Renatinha! Já concordamos com isso e Nairóbi não me espera mais, cá estou! Haha, beijos!

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  2. Fala Brunão! Bernardo me contou do blog na semana passada e só hoje consegui colocar em dia todos os posts. Ressalvadas as devidas proporções e o fato de eu ter tido a possibilidade de dormir em algum hotel de algumas estrelas, já pude passar por algumas das experiências que você passou quando fui para a Tailândia e Indonésia, sendo inclusive assaltado dentro do aeroporto na minha chegada neste último.

    Curiosamente, coloquei a leitura aqui em dia em um post que não poderia vir melhor a calhar. Também reflito sobre o tema e admito que há alguns anos optei pelo segundo. Nas minhas reflexões fico em dúvida se deveríamos forçar um sorriso para presenciarmos boas ações ou deveríamos praticar boas ações para gerar sorriso nas pessoas. É o velho dilema do ovo e da galinha.

    Admiro muito pessoas que conseguem ter essa característica espontaneamente. Só perdi um amigo até hoje e tive o azar de ser um desses.

    Enfim, continua aproveitando bastante essa viagem que agora deixando um pouco de lado o sorriso e os outros, vai ser muito proveitosa para o seu "eu". Vê se fica vivo para contar mais histórias quando voltar.

    Grandes abraços,
    Hugo

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    1. Fala Hugão! Não importa que demorou, mas que bom que está acompanhando! O dilema é complicado, mas acabei optando pelo sorriso mesmo com várias complicações que possivelmente me gerou! Quando eu voltar a gente fecha aquele Jataí pra trocar uma idéia e eu te conto! Abração parceiro!

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