O que me
chamou atenção no retorno à Arusha foi outro bicho. Um bicho sofrido demais,
que carregava comida na cabeça pra dar aos filhotes. Um bicho que passeava por
um posto de gasolina quase abandonado. Um bicho que fica te olhando quando você
passa, suplicando pra ser adotado por alguém que consiga tratar bem dele.
Vai ver por isso tanta gente tem dificuldade de abrir
a porta da alma até pra quem ama. Acostumados a ignorar fatos pra impedir
sentimentos, torna-se preferível não olhar pro bicho do que tomar a consciência
de que ele tá ali, olhando, estranhando. Acho que o que mais dói é pensar na
falta de perspectiva do bicho, zanzando só pra sobreviver.
No final das contas, é isso que todos nós somos.
Bichos. Depois de ver tanto bicho bacana, tinha abstraído o bicho cotidiano.
Lembrando dele, me deu uma vontade danada de chorar. Nunca conseguiria fechar
os olhos pra não ver, mas o retorno da consciência veio como um tiro. Até uma
culpa pequena pelo safári, coisa que boa parte dos bichos de cá jamais teria
condições de fazer.
No meu último dia de Tanzânia, milhões de
agradecimentos. Por toda a vivência que não é pouca. Pelas diretrizes
profissionais e pessoais que me deu. Pela camaradagem de todos aqueles que
participaram do processo, de longe ou de perto. Por ser um aprendizado que vou
levar pra eternidade. E por outros tantos motivos que não sei colocar em
palavras. À Tanzânia, meu mais sincero obrigado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário