segunda-feira, 8 de abril de 2013

Claudinei Armstrong


A maratona da Tanzânia apresentou a conta. Desde que cheguei à sensacional cidade de Nairóbi, tenho estado muito cansado e só consigo dormir. Talvez tenha sido porque achei um porto seguro dentro de casa, como se agora fosse possível relaxar depois de tanto esforço e perrengue. De certa forma, me julgo merecedor de uma respirada.

Descobri que essa respirada na verdade é só pra pegar fôlego. Fui ao colégio hoje pela primeira vez e confesso que fiquei impressionado com o que vi. Pretendo falar do trabalho em detalhes depois, mas posso dizer que todo dia de nove às três da tarde vou laborar em prol dessas crianças geniais. Na sexta-feira, pra fechar a semana com chave de ouro, animar crianças com câncer no hospital.

Por um lado estou em êxtase com todas as perspectivas futuros. No entanto, existe certa preocupação de aguentar a forte jornada que me aguarda. Não fisicamente, mas mentalmente. Todo esse processo inicial de adaptação é complicado e os desafios que se apresentam pela frente não são poucos. Ensinar história, inglês e Direitos Humanos (consegui acrescentar isso à grade curricular) de segunda a sexta será brabo.

Não para por aí. Ainda devo apresentar aulas pra um grupo de adultos dentro da favela onde se localiza o colégio, numa expansão de conhecimentos que consegui por acá. Sob as condições locais, o desgaste vai ser hardcore. Dois meses nessa rotina rotineira vai deixar suas marcas, ah vai. Prepara o banho quente mãe. Menino Bruno chegará cansado.

Simultaneamente, Noah (um dos camaradas que trabalha na casa cozinhando e arrumando tudo) é maratonista e amigo do recém-campeão da Maratona de Paris. Todos os dias de manhã, antes de trazer o café da manhã fresquinho, vinte quilômetros. Depois do almoço, mais vinte quilômetros. Antes do jantar, vintinho pra encerrar o dia bem. Vou tentar confiscar um pouco dessa disposição.

Gravei um vídeo da casa assim como fiz com a outra. Dá pra comparar e ver todas as diferenças. Até Nescau de herança brazuca deu o ar da graça na residência. Apesar do garfo não estar todos os dias à disposição (não tem muitos), só de observar esse belo objeto pontiagudo tenho calafrios de emoção. Isso pra não falar no assento sanitário, com o qual desenvolvi íntima relação. Somos eu e ele, agora. Confira.


A sorte é que, assim como cidadão Armstrong, conto com dopings em dosagens cavalares. Um papo com vovô e vovó no Skype, o sorriso daquela criança no colégio que não tem nada a não ser a oportunidade pra agarrar e os amigos brincando sempre no facebook. Pelos poderes de Greyskull, vou precisar de vocês. Não me deixem só. Eu tenho medo do escuro.

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