O mal dos que não gostam de política é ser governados
por aqueles que gostam. Ontem tomou posse no Quênia o presidente Uhuru
Kenyatta, após eleição pra lá de polêmica. Hipoteticamente por uma
superioridade de um milhão de votos, a população local aceitou a eleição após o
julgamento do Supremo Tribunal ter declarado válido o processo que levou o
amigo ao cargo.
Controvérsia nas eleições, normal. Uhuru (liberdade,
em suaíle) Kenyatta é filho do primeiro chefe de Estado e presidente do Quênia,
Jomo Kenyatta. O papai do atual manda-chuva é considerado por muitos o fundador
da nação e governou de 1964 até 1978 por período maior do que o permitido pela
Constituição. Bom começo. Además,
filho de jacaré, jacarezinho é. Vide menino Bush, surpreendendo o mundo com
ignorância em níveis incontáveis.
Os noticiários internacionais mostraram há pouco
tempo cenas de violência e indignação dos quenianos quanto à eleição de menino
Uhuru. A situação não se justifica apenas pela suposta fraude na contagem dos
votos, incluindo cidadãos que faleceram e demais gasparzinhos, mas pelas
acusações sofridas pelo senhor mandatário.
Nada menos que o Tribunal Penal Internacional possui
sobre Vossa Excelência acusações de crimes contra a humanidade, pelo evento
protagonizado em 2007/08 que culminou com a morte de mil e trezentos quenianos.
Ninguém lembra porque o valor midiático de genocídios africanos é bem menor do
que a morte de qualquer mulher fruta ou ex-BBB.
Corredor do Childrock Institute |
Pra melhorar, o processo no TPI vem sendo prejudicado
pelo sumiço misterioso de testemunhas e vítimas da violência eleitoral. Apesar
disso, o Quênia foi o primeiro país na história a eleger um cidadão sendo
processado pelo Tribunal Penal Internacional. Assistindo aos melhores momentos
do discurso, vi a promessa feita pelo digníssimo de um laptop pra cada jovem
estudante. Tá de sacanagem.
A independência do país chegou em 1963, alegando um
regime democrático pela Constituição feita no mesmo ano. Os populares se
orgulham da nação ter resolvido um problema político através de seus mecanismos
internos pela “primeira vez”, sem interferência britânica ou de qualquer outro
órgão internacional. No final das contas, será essa a noção de desenvolvimento?
O dia foi declarado feriado em função do
discurso presidencial. Soube hoje, no meu segundo dia de aula, que a maioria
das crianças ficou sem comer porque dependem dos alimentos providos pelo
colégio. Com isso, disseram que não gostaram do feriado porque foi preciso
mendigar por água e comida de casa em casa. Se deixar o emocional entrar em
campo, já era. Comentários?
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