segunda-feira, 15 de abril de 2013

Namorico


Dois meses de África. Mas calma que eu não to com vontade de escrever um texto filosófico não. Vai ser um dia normal que acabou refletindo bastante toda a viagem. Parabéns pra mim por esse pequeno namorico com o continente. Prometo que me esforçarei o máximo pra não me perder em pensamentos. Ser prolixo é uma das minhas virtudes (ou defeitos). Foco nos fatos. E os fatos são os que seguem.

Sair de casa as sete de lá manhã pra pegar o bus. Lembra do Dala-Dala que eu chamei de Dela-Dela por um tempão? Então, aqui é a mesma coisa mas chama Matatu. Só que por uma lei abençoada, não pode ninguém ir em pé senão o condutor toma uma multa. O que quer dizer que sempre se vai sentadinho, curtindo a viagem (preocupado apenas com a presença de ladronáceos). Por outro lado, os amigos dirigem como se não houvesse amanhã (até porque pode ser que não haja mesmo).

Fui pro colégio com o hobbit. Chamo o finlandês assim agora porque ele é igualzinho às criaturas de J.R.R.Tolkien. Realmente é um alívio danado a companhia do colega de Frodo Bolseiro, não só pela segurança mas também pra compartilhar o perrengue em geral e dividir os holofotes. Todas as crianças olhavam para ele, até que ele botou o anel no dedo e sumiu. Aí voltou a ser só comigo.

Chegando lá, a favela de Mukuro logo depois de chover canivetes era um cenário pós-guerra. Como o chão vem da mãe natureza e é composto de pedras e lama, parecia a finalíssima de Barretos de tão enlameado que estava. Graças a deus não havia música sertaneja, ao contrário da nobre boiada. Encontrar o caminho pelo colégio foi bastante tranquilo, seguido pelos olhares impressionados do Señor de lós Anillos.

Finalmente marquei minhas aulas, que começam a partir de amanhã. Social Studies (história) pra duas turmas diferentes e English pra turma seis, minha preferida até agora. Todo dia, menos sexta-feira que é o dia do hospital. Encarar o colégio foi bem mais natural, o que não sei se é bom ou ruim. Acostumar com tais condições nunca é bom.

Pra completar, Nancy (que quer ser advogada e eu mimo o tempo todo por isso) estava com febre. Sem ter pra onde ir, John (o coordenador) deu um ritmo alegando ser necessário para que ela sobrevivesse. Só o uso da palavra survive já foi digno de um tiro no coração. Apesar disso, consegui me manter mais frio que Arnold Schwarzenegger no primeiro Batman (homem de gelo).

Na volta, a boa e velha tentativa de furto. Não pra cima de mim, mas no europeu. Uma senhora de seus sessenta e poucos anos tentou botar a mão no bolso dele três vezes dentro da Matatu de volta. Ela não apenas colocava como insistia, enquanto ele segurava os pertences. Depois que deu um tapa na mão da madame, ela esbravejou e começou a gritar em suaíle no ônibus. Bem bacana.

No aniversário de dois meses, teve saudade, teve miséria, teve violência, teve doideira no transporte e chuva à beça. No aniversário de dois meses, teve aprendizado, teve evolução, teve vivência e emoção. Praticamente um resumo bem resumido da ópera. Vamos ver o que o aniversário de dois meses e um dia me aguarda. Afinal, todo dia é dia.

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