Conheci um Egípcio chamado Ahmad (nome muito comum no
Cairo), que por ter perdido o seu voo de volta pra terra natal acabou vindo
passar uma noite na casa que estou. Como não acredito em coincidências e sempre
tento extrair o máximo de cada oportunidade dessa experiência, passei uma hora
conversando com ele sobre a revolução egípcia. Muito diferente de ler nos
jornais é ouvir a história de alguém que participou da retirada de Hosni
Mubarak do cargo.
A Revolução de 25 de janeiro, como é chamada no
Egito, foi incentivada pela revolução que ocorria na Tunísia e realizada com a
participação majoritária de jovens. Hosni Mubarak estava no poder há trinta
anos como ditador, oprimindo a população sem fornecer condições mínimas de
existência.
Não começou organizada. Os egípcios, em cinco ou
seis, andavam pelas ruas menores do Cairo gritando três palavras: خبز (pão), حرية
(liberdade) e العدالة الاجتماعية (justiça
social). O regime opressor de Mubarak havia atingido o limite, e aos poucos as
pessoas se encontravam nas avenidas maiores e partiam juntas pra Tahrir Square,
em downtown Cairo.
A polícia egípcia era famosa por dispersar multidões,
aprendizado necessário pra servir ao ditador. Qualquer tentativa de revolução
era facilmente apagada com ação policial, bombas de gás lacrimogêneo e
cassetetes. No dia 25 de janeiro foi diferente. Como era necessário atravessar
pontes pra chegar ao ponto de encontro, Mubarak deu ordens para que a polícia
não deixasse ninguém passar.
Mesmo após alguns presos nesta tensão, os egípcios
permaneceram e a polícia tirou o uniforme e correu. As viaturas com os recém-detentos
foram reviradas e os populares, libertados. Mubarak convocou o exército e
incentivou alguns do alto escalão como forma de acabar com a revolta. Quando os
militares chegaram à praça, foram recepcionados com gritos de união com o povo
e passaram a proteger os milhares que protestavam.
Praça Tahrir |
Em 28 de janeiro, alguns revoltados começavam a
voltar pra casa, já cansados da situação que durava três dias. No entanto,
Mubarak havia ordenado alguns homens para atacarem a população visando acabar
com os rebeldes de vez. Essa ação foi justamente o gás que faltava para
convocar todo o Egito contra o ditador, tornando uma revolução de milhares em
um ato histórico de milhões.
Com cerca de oitocentos feridos, houve comemorações
na praça pelo anúncio de que Mubarak sairia do poder, mas apenas perto das
eleições em setembro. A incredulidade do povo egípcio fez com que todos
permanecessem requerendo a sua imediata retirada, enquanto vários atentados
ocorriam por todo o país.
A partir daí, milhões se reuniram na Praça Tahrir
até as comemorações de 11 de fevereiro, quando Mubarak anunciou sua retirada imediata
do poder. Tanto Mubarak quanto seus filhos foram presos. Meu novo amigo Ahmad reuniu-se
com a família em casa, comemorando a vitória da democracia e um exemplo a ser
seguido mundialmente.
Que orgulho de você, amigo! Sempre procurando ouvir o outro lado da história para compartilhar conosco!
ResponderExcluirEsse blog é sensacional....ler os seus relatos é quase um tapa na cara pra gente que reclama de barriga cheia né?
Continue escrevendo!!!
Beijo grande
Pouxa, brigadasso Werneckinha! Uma das coisas que com certeza se aprende muito por aqui é que quase sempre reclamamos não só de barriga cheia, mas com a pança empanturrada! Beijão!
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