Deixar a cidade vai ser um desafio grande, já que foi
meu templo de experiências e aprendizados pelo período de tempo ínfimo e eterno
de quase dois meses. Muito mais do que falar de Direitos Humanos, sentir na
pele os efeitos, práticas e consequências de violações deste nível gera uma
percepção grande do problema e uma preocupação do mesmo tamanho. Com grandes
poderes, vêm grandes responsabilidades (vide Homem-Aranha).
Infelizmente, é bastante verdadeiro quando dizem que
você se acostuma com as condições de miséria e pobreza. Confesso que depois de
algum tempo, até colocar alguma foto no blog me gerava dúvidas se aquela imagem
seria impactante e traduziria a realidade vivenciada. Isso não pode acontecer.
Ninguém deve se acostumar a ver crianças na chuva enchendo garrafas d’água, sem
mochila pra carregar o material ou sem recursos pra almoçar.
Como sou uma moça pra despedidas, quase rolam umas
gotinhas brotando do olho. Ainda bem que homem não chora (nem por dor, nem por
amor). Ainda nem me despedi do pessoal da casa que fez a vivência muito mais
intensa e interessante e já sinto falta de tais cidadãos. Cada um contribuiu
com um pouquinho (ou muito) de informação e emoção ao contexto, gerando novas
reflexões e sabedorias.
Meu dia foi uma sequência de eventos que dariam
inveja ao efeito borboleta. Saindo de casa atrasado, um caos na barca pra pegar
só a segunda. Entrei e fui recepcionado por um menininho pedinte, que me xingou
muito só por não contribuir. No final da viagem, desci do ferry com tampinhas
de garrafa sendo arremessadas nas minhas costas. Por não ter feito nada, juro.
Tudo certo pra sair da casa amanhã às quatro da
manhã. Neste momento, preciso de um milagre pra fazer todas as roupas entrarem
ordenadamente no mochilão. Na bagagem, muita saudade e conhecimento adquirido
nesse tempo todo de Tanzânia. Destino: Moshi. Objetivo: Meditar ao pé do
Kilimanjaro. Bons ventos pra mim!
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