Não é só de miséria que se constrói uma Tanzânia. Se
alguém lançar no Google e visualizar o satélite, vai encontrar uma parte
pequena da cidade com construções dignas de Avenida Rio Branco. Esses prédios
possuem escritórios de bancos e empreiteiras e até ar condicionado. Meu deus,
ar condicionado. Quantas saudades.
As áreas residenciais
distantes do centro da cidade são todas num nível de miséria e pobreza que foge
de qualquer senso comum. No entanto, na área comercial alguns arranha-céus dão
a impressão de que o país realmente vai a algum lugar. Apesar da concentração
desses investimentos em só um local e da nação ser quase uma “novidade” no
cenário internacional, existe um crescimento.
O perigo é o bambu crescer virado. Já diria o
filósofo, pau que nasce torto nunca se endireita. Neste momento inicial
de crescimento e modernização (precária, mas modernização), deve se tomar todo
cuidado do mundo pra direcionar os esforços pra um desenvolvimento correto. Os
prédios são muito bonitos, mas sem luz pra trabalhar, fazer com que as empresas
tenham que adquirir geradores como condição de trabalho joga bastante interesse
pra longe daqui.
Pra mostrar uma parte do centro da cidade, resolvi cometer
um ato revolucionário no meio da rua. Assim que avisei uma placa de “Não Pare”,
parei. Essa foto foi tirada assim que cheguei aqui. Quero ver quem vai me botar
pra ver o sol nascer quadrado agora. Viva la revolución!
De qualquer forma, hoje tive uma reunião sobre o
trabalho voluntário, que infelizmente está chegando ao fim. A escola muçulmana teve
seu fim decretado e infelizmente não consegui dar todas as aulas lá que deveria,
ora por falta de organização no calendário escolar, ora por exames nacionais
obrigatórios no caminho. Fiquei bastante triste, mas feliz por ter aprendido
tanto e pelo sentimento de ter contribuído com a formação e a conscientização
de vários garotos.
Aliás, essa reunião ocorreu num local chamado Steers,
conhecido também como paraíso. Além de ter ar condicionado (obrigado Senhor),
vendia hambúrgueres e tive a oportunidade de ver pessoas comendo com garfo e
faca (foi a primeira vez aqui depois de um mês e pouco). Pro meu azar, não ando
com mais de cinco mil shillings no bolso. Isso é suficiente pra ir, voltar e
ter uma refeição normal, mas só um hambúrguer suculento com acompanhamentos era
nove mil shillings (uns oito reais). Fiquei na vontade. Trouxa.
Também pudera. Desde que cheguei aqui, apelidei as
quartas-feiras junto com a parceira alemã de projeto de Black Wednesday. Tudo que pode dar errado nesse dia dá. O ferry parou de funcionar tanto indo pro
centro quanto voltando pra casa e nos dois Dala-Dalas (pronúncia certa, descobri hoje) fui em pé com as costas
no teto. Quando contei a um tanzaniano o apelido da
quarta-feira, dizendo que tive um White Wednesday noutro dia que não saí de
casa, fiquei com medo de ter sido racista. Eita ferro. Pra fechar, Emílio
Santiago descansando no céu. Agora, a verdade tinha que ser justamente chinesa.
Que sacanagem.
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