Ao chegar no hotel naquele sábado, resolvi não fazer
absolutamente mais nada. Posso dizer que foi uma das melhores decisões que
tomei. A praia convidava ao “dulce far niente”,
expressão italiana que significa, ao pé da letra, o “doce de se fazer nada”.
Acabei crocodilando na areia por horas, saindo como o réptil pra água morna e
voltando ao lugar de origem.
Foi tão relaxante que ainda estou relaxado. Como hoje
não tem aula, estou compartilhando diversos momentos de alegria com a cama de
casa, que por incrível que pareça fez falta e gerou saudades. Mesmo com todos os
problemas da residência, acaba se criando um apego ao lar doce lar. Não naquele
lugar, nem naquele local, pois era lindo o seu olhar (tchururutchutchutchu).
O tal bar que tocava o melhor da música jamaicana (foto
acima) continha uma frase que se encaixou perfeitamente na minha situação. Sem estender
muito na filosofia, é engraçado pensar como as coisas conspiram a seu favor
quando se está no caminho certo. Na expressão, não achei sentido pra rotina do
restaurante, mas apenas pro meu trabalho voluntário.
Como Zanzibar é um ponto turístico, o almoço foi bem
mais caro. Arroz com polvo me custou três mil e quinhentos shillings (mesma
moeda), mais ou menos dois dólares e uns trocados. Sou tão mão-de-vaca que não
jogo peteca pra não abrir a mão e dou tchau de mão fechada. Se o ambiente
levava a pensar que era o próprio céu, o baixo custo de vida dava certeza. Que
marravilha.
Nesse sábado ainda dei uma volta ao redor pra
conhecer outras praias. Passei em frente ao Double Tree Resort (Hilton), que
continha uma série de espécies estrangeiras pagando aproximadamente cento e
cinquenta vezes o valor que eu desembolsava pelo mesmíssimo trecho praiano. Deixo
registrada minha risada. As praias de Kendwa e Renco eram igualmente increíbles, mas por ser tudo absurdo, não
dava pra ficar mais impressionado.
Ainda deu pra ver um pôr do sol daqueles. O quadro
pintado com barquinhos descansando na água numa faixa de terra quase privativa clamava
por uma fotografia. Por gostar de gravar momentos e sentimentos, e não apenas
imagens, fotografei mentalmente aquela paisagem que pretendo guardar por muito
tempo.
Fechei o dia numa festa estranha com gente
esquisita que o marinheiro do barco nos levou na camaradagem. Sem dinheiro no
bolso, por não ter trocado dólares, fiquei sem jantar. Sem luz, o local contava
com um gerador e o rap em suaíle não parou. Voltei pro hotel pelo cansaço de
ter acordado quatro e meia da manhã pra viajar até lá e pela esperança de ter
um domingo igualmente espetacular.
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