Saindo pra almoçar hoje debaixo de chuva com duas
comadres e um compadre, fomos ao local preferido pra comer Chips Mayai. Finalizada a santa ceia de omelete de batata frita,
compadre afirmou que precisava comprar água pois seu estoque de H2O chegava ao
fim. Sozinho, lá se foi e nos encontrou posteriormente sem garrafa ou nada.
Como macaco velho não trepa galho seco, logo percebi
que não se tratava de água mas de folhas. Não alface, mas plantas do capiroto,
daquelas que menino Marley cultivava bastante durante sua trajetória rastafári.
Algumas brincadeiras depois, compadre confessou realmente ter se dirigido ao
meliante vendedor de herbáceas já que seu estoque havia acabado (essa frase era
verdade).
Essa história apenas serve como ilustração de uma
mentalidade que assola a Tanzânia: drogas. Na primeira casa que fiquei, percebi
que os nacionais consumiam álcool até no café da manhã. Na segunda casa o fruto
proibido não era mais etílico, mas proveniente do matagal (salve Bezerra). Uma
parte considerável da população faz apologia aberta aos dois tipos nas ruas,
através de camisetas e adesivos.
Não acredito que caiba qualquer julgamento nesta
situação. Como é de conhecimento público, as drogas são muitas vezes utilizadas
como válvula de escape aos problemas cotidianos. Confrontar a realidade
africana pode levar indivíduos a procurarem uma “solução” na fuga. É mais
fácil, ainda que absurdamente menos eficaz, correr das dificuldades do que
ficar batendo cabeça até achar a saída.
Engraçado atestar que as drogas sintéticas e
conhecidas como “pesadas” não chegaram aqui ainda. Apesar de existir todo esse
movimento pró-drogas (embora não haja qualquer intuito de legalizar), os
“escapes” utilizados aqui são maconha e álcool apenas. As outras não foram
inseridas na sociedade. Não que não haja, mas não fazem parte do vocabulário da
delinquência.
Outro dia ocorreu um incidente. Duas chinesas
surtadas, acostumadas com o regime liberdade zero da bandeira vermelha,
furtaram uma quantidade considerável de suplemento verde de compadre e sem
saber o que fazer, ingeriram tudo. Passando muito mal, quase foram levadas ao
hospital. Dia seguinte uma delas ainda veio me contar que havia brincado com os
anjos nas nuvens. Só rindo mesmo.
Sou incapaz de opinar e criticar, mal ou bem,
qualquer comportamento direcionado às drogas. Falta informação suficiente sobre
as drogas em si e mesmo vivendo aqui, falta conhecimento sobre a severa
condição em que vivem os cidadãos tanzanianos. Adianto que de acordo com
estatísticas, 85% da população é pobre e vive com menos de um dólar por dia. Algum
juiz se aventura?
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