Meia noite de sábado, um local da casa chamado
Suitbert me acorda aos gritos. Sem entender nada, pergunto o que está
acontecendo de errado pra ele me despertar daquela maneira. Numa voz meio nervosa, ele diz que os
inspetores de controle da imigração estão na casa e querem ver meus documentos.
Oi?
Assim que cheguei no aeroporto, tirei o visto e
paguei cinquenta dólares por isso. Aliás, posso praticamente dizer que só
peguei o carimbo porque quis, já que o controle de saída do aeroporto era tão
eficiente quanto questionário realizado na saída do Maracanã em final de
brasileirão. O que poderia motivar a presença de oficiais do governo tanzaniano
na minha casa naquela hora?
Primeiro pensei que seria um assalto ou algo assim.
Não faria sentido nenhum os federais visitarem uma residência na virada da
noite, no meio do final de semana. Então perguntei pros locais se eles haviam
confirmado identidades, anotado números de documentos e demais providências.
Suitbert me garantiu que se tratavam realmente de agentes.
Neste momento, eles já estavam na porta do meu
quarto. Nem pra fazer a gentileza de esperar descer as escadas. Foi só o tempo
de acordar, procurar o passaporte e entregar na mão dos caras. Eram quatro no
total, uma mulher e três cidadãos com uma cara esquisitíssima. Muito
desconfiado, esperei eles analisarem meu passaporte até o veredito final.
Finalizado o procedimento policial, começaram a
conversar em suaíle com outros moradores da casa. Muito puto da vida, intervi
perguntando qual era o problema. A alemã que também entregou o passaporte
estava muito nervosa do meu lado e teve que sentar pra se acalmar.
Os federais perguntaram qual era o propósito da minha
permanência no país, que informei se tratar de trabalho voluntário. Nesse
momento, todos eles riram e disseram que o visto pra trabalho voluntário era do
“Tipo C” e iria me custar a bagatela de duzentos e cinquenta dólares. Transtornado,
segurei a onda pra manter uma expressão amistosa.
Os sujeitos fizeram menção de descer pro andar de
baixo, então pedi meus documentos de volta. Além de não me entregarem o passaporte,
queriam me levar ao controle de imigração pra regularizar a minha situação
antes que se configurasse crime. Sendo preferível ir junto a deixar o documento
com pessoas desconhecidas, fui instruído por Suitbert mais uma vez a deixar levarem
tudo que resolveríamos todos na segunda-feira.
Conclusão da obra: estou sem documentação,
preciso ir ao controle de imigração amanhã e com um humor do cão. Não só “invadiram”
a casa à meia-noite do final de semana como levaram meu passaporte de brinde. Os
locais avisaram que tentarão resolver sem qualquer custo, já que não tenho qualquer
intenção de arcar com os custos da extorsão. A prática do Anger Management nesse domingo será intensa.
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