As duas últimas chinesas da casa foram embora, como
desejado. E arrependido, demais. A casa está completamente vazia. Estou no sofá
do lado da minha parceira alemã de projeto e um clima de tristeza e solidão braba
no ar. Isso por causa de duas chinesas que eu sinceramente não curtia muito.
Quem diria.
Que sensação esquisita. Pensar que poderia ter
aproveitado pra saber ainda mais da cultura chinesa, conversado mais com elas,
saber das suas ambições, angústias, futuros. Cada pessoa é completamente
diferente da outra, em contextos diferentes, situações diferentes. Agora já
era. Pelo menos pra essas duas meninas sensacionais que deixaram a casa.
É curiosa a quantidade de famílias que não chegam a
se conhecer mesmo. A quantidade de grandes amizades baseadas em mera superficialidade.
Relações de mãe e filho (não é meu caso, né mãe?), parentes próximos. Que
passam uma vida juntos e ainda assim, não conseguem se conhecer tão bem.
Queria propor um negócio diferente hoje. Pra quem
estiver lendo, você mesmo, dá uma ligada ou chega perto daquela pessoa que tá
sempre contigo. Marido, mãe, pai, amigo, não importa. Pergunta como foi o dia,
o que ela tá pensando de tudo, o que passa na cabeça dela. Eu não tenho mais a
oportunidade de perguntar isso pras chinesas, mas todo mundo tem, todo dia, a
chance de fazer diferente.
Até essas
pessoas “irem embora da casa”. E aí bate aquela solidão, aquela sensação de que
poderia ter feito melhor, se esforçado mais pra estar presente, ter sido melhor
companheiro, melhor camarada. Nessa hora, o tempo acabou. O que havia pra se
conhecer, se conheceu. Vai virar uma memória, independentemente do seu grau de
sabedoria sobre o outro ou não.
Essas chinesas são minha metáfora pronta. Cheias de
defeitos, incomodando, sujando um monte de coisa várias vezes. E me faltou a
capacidade de ver que, além disso tudo, estavam ali duas pessoas cheias de
histórias, numa realidade completamente diferente. Claro que consegui captar
alguma coisa, mas muito pouco perto da infinidade de frases que poderiam ser
úteis pra mim ou de respostas minhas que seriam de uma utilidade valiosa pra
elas.
Ainda que eu tenha ficado muito amigo de uma chinesa,
a “Jane” (Fa-Min), a ponto de ter conversado sobre aspirações, ideias de mundo
e ambições, cada indivíduo é um completamente diferente. Vivendo na mesma
China, existem quantas pessoas com um ponto de vista seu, uma vida sua. Elas
cruzaram o meu caminho, eu absorvi o que tinha que absorver e essa importante
lição: faltou mais.
Não deixo uma música, mas uma mensagem.
Boa noite.
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