Deixei agendada essa publicação pra não atrasar
muito durante o final de semana que não estou em Dar Es Salaam. O que significa
dizer que enquanto vocês estão lendo, eu to relaxando em alguma praia, dormindo
num hotel meia estrela e curtindo o que há de melhor na Tanzânia (ainda que
tecnicamente não seja Tanzânia). Merecidíssimo.
Fiquei perplexo de descobrir a relação dos habitantes
da Tanzanía (como eles chamam o país) com a natureza, o que revela um lado do
pêndulo muito curioso. Explico. Certa vez alguém me disse que a sociedade
enfrenta sempre vários pêndulos, cujo equilíbrio é muito difícil de ser
encontrado. Vou exemplificar pra ficar mais fácil.
A religião como explicação pros fenômenos que nos
rodeiam era o parâmetro há alguns muitos anos atrás. O que significa dizer que
historicamente, a religião dava respostas pra perguntas que eventualmente nos
fazemos, filosofando e questionando a existência, o universo e por aí vai.
Então veio a ciência, que mesmo com desconfiança popular, foi conquistando seu espaço
até desbancar a religião como forma predominante de explicação do mundo. O
pêndulo mudou de lado.
Não em todos os lugares. A relação dos locais com a
natureza e os fenômenos de céu e terra ainda se baseiam majoritariamente em crenças
e convicções relacionadas à fé. Enquanto degustava meu café da manhã, as senhoras
(mãe e filha) que preparam o Chapati tomaram
um susto com um trovão. Nesse momento chovia cântaros e as duas ficaram muito
nervosas afirmando se tratar de Deus.
Não estou dizendo que não era o todo-poderoso nem questionando
os métodos de interpretação de cá. Achei curiosa essa reação e procurando saber
mais, descobri toda essa interação não apenas com a religião, mas também com a natureza. Comemos com as moscas, vivemos
com galinhas e aranhas. Os animais são parte da cultura africana e tanzaniana,
o que faz do convívio com os bichos algo extremamente natural.
Portanto, o pêndulo ainda está muito mais no
crer do que no comprovar. O conhecimento empírico ainda não prepondera e até os
colégios “sofrem” com essa dualidade. Como se trata de um momento de transição,
acreditar no professor de química ou no pastor? Claro que cotidianamente, uma
coisa não impede a outra. No entanto, aqui são considerados extremos quase que
excludentes, exigindo uma “decisão”: ciência ou fé?
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