Oito da manhã na porta do Kilimanjaro Backpackers
Hotel pra encontrar com Danken, o guia. Depois de um café da manhã de chorar,
com pão, café, melancia e panquecas até passar mal, parti num Dala-Dala rumo a Marangu, local onde se situa a rainha
das montanhas africanas. Mais de uma hora chacoalhando numa van transbordando
gente, cheguei.
A primeira subida ao local inicial da trilha Marangu Route, o mais famoso dos percursos,
foi feita de táxi. Nesse momento, o motorista me fez o imenso favor de colocar
Bob Marley no mais alto volume possível, gerando um momento de felicidade
intensa como poucas vezes. Afinal, não é todo dia que se está ascendendo rumo
ao Kilimanjaro na Tanzânia, África.
Nessa hora, o gigante já se encontrava pertinho.
Pouco visível, pro meu azar, pelas muitas nuvens existentes nessa época de
chuva. Cheguei a ver o pico, mas vou ficar devendo a foto porque não tinha como
pegar no momento certo ou focalizar. Experiência increíble de sentir a atmosfera de dois quilômetros de altura no início
do caminho pro céu.
Saindo de lá, desci a ladeira e fui agarrado por uma
senhora idosa, me chamando de irmão sem motivo aparente. Não entendi nada, mas
aprendi uma importante sigla ensinada por Danken que explica alguns dos fenômenos
do continente: TIA. O significado? This
Is Africa. Ainda tem um M no final de TIA, mas por ser um palavrão não vou
expressar nesta página imaculada.
Após esquisito episódio e com muito chão percorrido,
entrei nas plantações de banana e café de vários pequenos produtores. Mato
adentro, dei de cara com uma vila da tribo Chagga, nem tão famosa quanto mas
distinta dos Maasai por criar Ngombe
(gado) em ambientes fechados e não abertos. Nessa hora comecei a fabricar café
tirado do pé, que consumi junto com uma generosa refeição.
É muito normal observarmos de pessoas que tem menos condições
financeiras uma generosidade maior. Foi quase um banquete com batata, banana
com feijão e ervilha e abacate removido do abacateiro na hora. Fora isso, o
café tava uma “diliça”. A oportunidade
de moer o grão, ferver, moer de novo pra tirar a casca e jogar na água quente
foi extraordinária.
De lá pra Kilasiya
Waterfalls. A cachoeira tinha uma vista sensacional também, que fiquei
apreciando parado por uma meia hora. Dava até pra mergulhar, mas um frio danado
não era lá um bom motivador. Fechei o dia pra guardar na cabeça num segundo almoço
de Ndizi Nyama (banana verde com
carne) seguido de uma rápida passada num Baobab (a árvore) lindo de “morrê”.
Não lembro se já disse aqui, mas a maioria dos
tanzanianos não sabe nadar. Danken disse que era capaz da arte porque tinha que
atravessar um rio todo dia durante alguns anos a nado pra chegar na sua escola. Isso tudo com a mochila na cabeça pra não molhar o material escolar. E tem gente fazendo de tudo pra fugir da aula. Que feio, que feio.
Esses momentos assim valem a pena pra guardar na
memória principalmente pra serem resgatados quando as coisas não vão bem.
Inenarrável a vista do Kilimanjaro descendo a ladeira (da preguiça) direto do
início da ascensão. Entrar na tribo e tomar café com os Chagga num clima de
cordialidade total e admirar uma cachoeira por meia hora. Sem palavras. Boa
noite, hasta mañana!
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