domingo, 3 de março de 2013

A Revolução do Nilo


Conheci um Egípcio chamado Ahmad (nome muito comum no Cairo), que por ter perdido o seu voo de volta pra terra natal acabou vindo passar uma noite na casa que estou. Como não acredito em coincidências e sempre tento extrair o máximo de cada oportunidade dessa experiência, passei uma hora conversando com ele sobre a revolução egípcia. Muito diferente de ler nos jornais é ouvir a história de alguém que participou da retirada de Hosni Mubarak do cargo.

A Revolução de 25 de janeiro, como é chamada no Egito, foi incentivada pela revolução que ocorria na Tunísia e realizada com a participação majoritária de jovens. Hosni Mubarak estava no poder há trinta anos como ditador, oprimindo a população sem fornecer condições mínimas de existência.

Não começou organizada. Os egípcios, em cinco ou seis, andavam pelas ruas menores do Cairo gritando três palavras: خبز (pão), حرية (liberdade) e العدالة الاجتماعية (justiça social). O regime opressor de Mubarak havia atingido o limite, e aos poucos as pessoas se encontravam nas avenidas maiores e partiam juntas pra Tahrir Square, em downtown Cairo.

A polícia egípcia era famosa por dispersar multidões, aprendizado necessário pra servir ao ditador. Qualquer tentativa de revolução era facilmente apagada com ação policial, bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes. No dia 25 de janeiro foi diferente. Como era necessário atravessar pontes pra chegar ao ponto de encontro, Mubarak deu ordens para que a polícia não deixasse ninguém passar.

Mesmo após alguns presos nesta tensão, os egípcios permaneceram e a polícia tirou o uniforme e correu. As viaturas com os recém-detentos foram reviradas e os populares, libertados. Mubarak convocou o exército e incentivou alguns do alto escalão como forma de acabar com a revolta. Quando os militares chegaram à praça, foram recepcionados com gritos de união com o povo e passaram a proteger os milhares que protestavam.

Praça Tahrir
Em 28 de janeiro, alguns revoltados começavam a voltar pra casa, já cansados da situação que durava três dias. No entanto, Mubarak havia ordenado alguns homens para atacarem a população visando acabar com os rebeldes de vez. Essa ação foi justamente o gás que faltava para convocar todo o Egito contra o ditador, tornando uma revolução de milhares em um ato histórico de milhões.

Com cerca de oitocentos feridos, houve comemorações na praça pelo anúncio de que Mubarak sairia do poder, mas apenas perto das eleições em setembro. A incredulidade do povo egípcio fez com que todos permanecessem requerendo a sua imediata retirada, enquanto vários atentados ocorriam por todo o país.

A partir daí, milhões se reuniram na Praça Tahrir até as comemorações de 11 de fevereiro, quando Mubarak anunciou sua retirada imediata do poder. Tanto Mubarak quanto seus filhos foram presos. Meu novo amigo Ahmad reuniu-se com a família em casa, comemorando a vitória da democracia e um exemplo a ser seguido mundialmente.

2 comentários:

  1. Que orgulho de você, amigo! Sempre procurando ouvir o outro lado da história para compartilhar conosco!
    Esse blog é sensacional....ler os seus relatos é quase um tapa na cara pra gente que reclama de barriga cheia né?
    Continue escrevendo!!!
    Beijo grande

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    1. Pouxa, brigadasso Werneckinha! Uma das coisas que com certeza se aprende muito por aqui é que quase sempre reclamamos não só de barriga cheia, mas com a pança empanturrada! Beijão!

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