terça-feira, 5 de março de 2013

Expresso Chinês


As duas últimas chinesas da casa foram embora, como desejado. E arrependido, demais. A casa está completamente vazia. Estou no sofá do lado da minha parceira alemã de projeto e um clima de tristeza e solidão braba no ar. Isso por causa de duas chinesas que eu sinceramente não curtia muito. Quem diria.

Que sensação esquisita. Pensar que poderia ter aproveitado pra saber ainda mais da cultura chinesa, conversado mais com elas, saber das suas ambições, angústias, futuros. Cada pessoa é completamente diferente da outra, em contextos diferentes, situações diferentes. Agora já era. Pelo menos pra essas duas meninas sensacionais que deixaram a casa.

É curiosa a quantidade de famílias que não chegam a se conhecer mesmo. A quantidade de grandes amizades baseadas em mera superficialidade. Relações de mãe e filho (não é meu caso, né mãe?), parentes próximos. Que passam uma vida juntos e ainda assim, não conseguem se conhecer tão bem.

Queria propor um negócio diferente hoje. Pra quem estiver lendo, você mesmo, dá uma ligada ou chega perto daquela pessoa que tá sempre contigo. Marido, mãe, pai, amigo, não importa. Pergunta como foi o dia, o que ela tá pensando de tudo, o que passa na cabeça dela. Eu não tenho mais a oportunidade de perguntar isso pras chinesas, mas todo mundo tem, todo dia, a chance de fazer diferente.

 Até essas pessoas “irem embora da casa”. E aí bate aquela solidão, aquela sensação de que poderia ter feito melhor, se esforçado mais pra estar presente, ter sido melhor companheiro, melhor camarada. Nessa hora, o tempo acabou. O que havia pra se conhecer, se conheceu. Vai virar uma memória, independentemente do seu grau de sabedoria sobre o outro ou não.

Essas chinesas são minha metáfora pronta. Cheias de defeitos, incomodando, sujando um monte de coisa várias vezes. E me faltou a capacidade de ver que, além disso tudo, estavam ali duas pessoas cheias de histórias, numa realidade completamente diferente. Claro que consegui captar alguma coisa, mas muito pouco perto da infinidade de frases que poderiam ser úteis pra mim ou de respostas minhas que seriam de uma utilidade valiosa pra elas.

Ainda que eu tenha ficado muito amigo de uma chinesa, a “Jane” (Fa-Min), a ponto de ter conversado sobre aspirações, ideias de mundo e ambições, cada indivíduo é um completamente diferente. Vivendo na mesma China, existem quantas pessoas com um ponto de vista seu, uma vida sua. Elas cruzaram o meu caminho, eu absorvi o que tinha que absorver e essa importante lição: faltou mais.

Não deixo uma música, mas uma mensagem. Boa noite.

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