domingo, 17 de março de 2013

Púliça


Meia noite de sábado, um local da casa chamado Suitbert me acorda aos gritos. Sem entender nada, pergunto o que está acontecendo de errado pra ele me despertar daquela maneira.  Numa voz meio nervosa, ele diz que os inspetores de controle da imigração estão na casa e querem ver meus documentos. Oi?

Assim que cheguei no aeroporto, tirei o visto e paguei cinquenta dólares por isso. Aliás, posso praticamente dizer que só peguei o carimbo porque quis, já que o controle de saída do aeroporto era tão eficiente quanto questionário realizado na saída do Maracanã em final de brasileirão. O que poderia motivar a presença de oficiais do governo tanzaniano na minha casa naquela hora?

Primeiro pensei que seria um assalto ou algo assim. Não faria sentido nenhum os federais visitarem uma residência na virada da noite, no meio do final de semana. Então perguntei pros locais se eles haviam confirmado identidades, anotado números de documentos e demais providências. Suitbert me garantiu que se tratavam realmente de agentes.

Neste momento, eles já estavam na porta do meu quarto. Nem pra fazer a gentileza de esperar descer as escadas. Foi só o tempo de acordar, procurar o passaporte e entregar na mão dos caras. Eram quatro no total, uma mulher e três cidadãos com uma cara esquisitíssima. Muito desconfiado, esperei eles analisarem meu passaporte até o veredito final.

Finalizado o procedimento policial, começaram a conversar em suaíle com outros moradores da casa. Muito puto da vida, intervi perguntando qual era o problema. A alemã que também entregou o passaporte estava muito nervosa do meu lado e teve que sentar pra se acalmar.

Os federais perguntaram qual era o propósito da minha permanência no país, que informei se tratar de trabalho voluntário. Nesse momento, todos eles riram e disseram que o visto pra trabalho voluntário era do “Tipo C” e iria me custar a bagatela de duzentos e cinquenta dólares. Transtornado, segurei a onda pra manter uma expressão amistosa.

Os sujeitos fizeram menção de descer pro andar de baixo, então pedi meus documentos de volta. Além de não me entregarem o passaporte, queriam me levar ao controle de imigração pra regularizar a minha situação antes que se configurasse crime. Sendo preferível ir junto a deixar o documento com pessoas desconhecidas, fui instruído por Suitbert mais uma vez a deixar levarem tudo que resolveríamos todos na segunda-feira.

Conclusão da obra: estou sem documentação, preciso ir ao controle de imigração amanhã e com um humor do cão. Não só “invadiram” a casa à meia-noite do final de semana como levaram meu passaporte de brinde. Os locais avisaram que tentarão resolver sem qualquer custo, já que não tenho qualquer intenção de arcar com os custos da extorsão. A prática do Anger Management nesse domingo será intensa.

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