sábado, 30 de março de 2013

Kilimanjaro



Oito da manhã na porta do Kilimanjaro Backpackers Hotel pra encontrar com Danken, o guia. Depois de um café da manhã de chorar, com pão, café, melancia e panquecas até passar mal, parti num Dala-Dala rumo a Marangu, local onde se situa a rainha das montanhas africanas. Mais de uma hora chacoalhando numa van transbordando gente, cheguei.

A primeira subida ao local inicial da trilha Marangu Route, o mais famoso dos percursos, foi feita de táxi. Nesse momento, o motorista me fez o imenso favor de colocar Bob Marley no mais alto volume possível, gerando um momento de felicidade intensa como poucas vezes. Afinal, não é todo dia que se está ascendendo rumo ao Kilimanjaro na Tanzânia, África.

Nessa hora, o gigante já se encontrava pertinho. Pouco visível, pro meu azar, pelas muitas nuvens existentes nessa época de chuva. Cheguei a ver o pico, mas vou ficar devendo a foto porque não tinha como pegar no momento certo ou focalizar. Experiência increíble de sentir a atmosfera de dois quilômetros de altura no início do caminho pro céu.

Saindo de lá, desci a ladeira e fui agarrado por uma senhora idosa, me chamando de irmão sem motivo aparente. Não entendi nada, mas aprendi uma importante sigla ensinada por Danken que explica alguns dos fenômenos do continente: TIA. O significado? This Is Africa. Ainda tem um M no final de TIA, mas por ser um palavrão não vou expressar nesta página imaculada.

Após esquisito episódio e com muito chão percorrido, entrei nas plantações de banana e café de vários pequenos produtores. Mato adentro, dei de cara com uma vila da tribo Chagga, nem tão famosa quanto mas distinta dos Maasai por criar Ngombe (gado) em ambientes fechados e não abertos. Nessa hora comecei a fabricar café tirado do pé, que consumi junto com uma generosa refeição.

É muito normal observarmos de pessoas que tem menos condições financeiras uma generosidade maior. Foi quase um banquete com batata, banana com feijão e ervilha e abacate removido do abacateiro na hora. Fora isso, o café tava uma “diliça”.  A oportunidade de moer o grão, ferver, moer de novo pra tirar a casca e jogar na água quente foi extraordinária.

De lá pra Kilasiya Waterfalls. A cachoeira tinha uma vista sensacional também, que fiquei apreciando parado por uma meia hora. Dava até pra mergulhar, mas um frio danado não era lá um bom motivador. Fechei o dia pra guardar na cabeça num segundo almoço de Ndizi Nyama (banana verde com carne) seguido de uma rápida passada num Baobab (a árvore) lindo de “morrê”.

Não lembro se já disse aqui, mas a maioria dos tanzanianos não sabe nadar. Danken disse que era capaz da arte porque tinha que atravessar um rio todo dia durante alguns anos a nado pra chegar na sua escola. Isso tudo com a mochila na cabeça pra não molhar o material escolar. E tem gente fazendo de tudo pra fugir da aula. Que feio, que feio.

Esses momentos assim valem a pena pra guardar na memória principalmente pra serem resgatados quando as coisas não vão bem. Inenarrável a vista do Kilimanjaro descendo a ladeira (da preguiça) direto do início da ascensão. Entrar na tribo e tomar café com os Chagga num clima de cordialidade total e admirar uma cachoeira por meia hora. Sem palavras. Boa noite, hasta mañana!

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