terça-feira, 19 de março de 2013

Depois da Tempestade


A tormenta acabou. Esperei o dia inteiro por uma ligação ou uma mensagem de alguém responsável pelo processo de recuperação do meu passaporte, mas não aconteceu. Ao invés disso, oito horas da noite, bastante desanimado pela perspectiva de ter que resolver no dia seguinte, uma residente da casa mais vigiada do Brasil (alô Bial!) chega portando o meu passaporte.

Parecia natal. Fiquei absurdamente feliz e tratei de comemorar comprando batatas pra todos (calma que cada uma é setenta centavos de dólar). A felicidade não era nem só pelo fato de ter o documento em mãos, mas por ter evitado uma série de constrangimentos que poderiam ter ocorrido.

Por exemplo, a chance de pagar duzentos e cinquenta dólares. A possibilidade dos agentes não serem oficiais de fato e nunca mais ver meu passaporte de novo. Em consequência, ter que tirar um novo na embaixada brasileira que eu nem sei onde há. Ter que abandonar o trabalho voluntário e voltar pro Brasil. Tudo podia acontecer, mas acho que já deu pra entender.


Nessas ocasiões, duas perguntinhas são essenciais: por que e pra quê? Qual teria sido a motivação do fato e o aprendizado por trás dessa experiência? Normalmente exigiria um longo período de tempo brincando dessa brincadeira de reflexão, mas confesso que nem precisei pensar demais. A resposta veio prontinha na minha cara.

É incrível como um evento negativo pode cegar todos os acontecimentos positivos. A minha primeira reação foi falar mal de todo mundo, do país, da economia, da cultura, dos hábitos. Toda a construção e compreensão da viagem e do idealismo foram por água abaixo. De um instante pra outro, uma série de pensamentos absurdamente negativos vieram à tona amaldiçoando cada pedaço de terra.

E ta aí a lição. Quantas inúmeras vezes nos apegamos a um fato ruim que se torna capaz de omitir e esconder toda a maravilha por trás dele. Ontem passei o dia inteiro com a cara fechada, transtornado com o acontecimento tentando me convencer de que existiam muitas coisas boas além dele. Claro que havia, mas no momento da raiva fica complicado de acreditar.

Foi necessária calma na condução do processo, paciência ao longo do dia, repetição de um otimismo pra me persuadir e controle emocional (que reconheço ser tão bom nisso quanto lavar a roupa e sou campeão do mundo em avacalhar a vestimenta). Tomara que pelo menos alguma dessas situações tenha dado pra absorver. Acima de tudo, a sabedoria de que quando tudo for de mal a pior, força na peruca porque tem muita coisa sensacional por trás da fumaça.



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