quinta-feira, 28 de março de 2013

A Última Fortaleza


Em Dar es Salaam, foi. Acabou e deixou pra trás uma lembrança inenarrável e experiências que nunca cogitei sequer existirem. Acima de tudo, a sensação de dever cumprido e uma felicidade imensa por saber que fiz o máximo que pude. Não foi só uma ideologia que deixei na cidade, mas um pedacinho do meu coração que vai sempre me fazer lembrar como tudo aconteceu.

Deixar a cidade vai ser um desafio grande, já que foi meu templo de experiências e aprendizados pelo período de tempo ínfimo e eterno de quase dois meses. Muito mais do que falar de Direitos Humanos, sentir na pele os efeitos, práticas e consequências de violações deste nível gera uma percepção grande do problema e uma preocupação do mesmo tamanho. Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades (vide Homem-Aranha).

Posso dizer que Dar es Salaam foi muito mais pra mim do que eu fui pra Dar es Salaam. Cheio de dúvidas e incertezas, vim com o objetivo altruísta de fazer alguma diferença pelos jovens tanzanianos e com a meta egoísta de me encontrar profissionalmente (e em muitos outros sentidos). Hoje dá pra afirmar que sei exatamente o meu norte e isso graças a esse pedacinho do mapa africano.

Infelizmente, é bastante verdadeiro quando dizem que você se acostuma com as condições de miséria e pobreza. Confesso que depois de algum tempo, até colocar alguma foto no blog me gerava dúvidas se aquela imagem seria impactante e traduziria a realidade vivenciada. Isso não pode acontecer. Ninguém deve se acostumar a ver crianças na chuva enchendo garrafas d’água, sem mochila pra carregar o material ou sem recursos pra almoçar.

Como sou uma moça pra despedidas, quase rolam umas gotinhas brotando do olho. Ainda bem que homem não chora (nem por dor, nem por amor). Ainda nem me despedi do pessoal da casa que fez a vivência muito mais intensa e interessante e já sinto falta de tais cidadãos. Cada um contribuiu com um pouquinho (ou muito) de informação e emoção ao contexto, gerando novas reflexões e sabedorias.

Meu dia foi uma sequência de eventos que dariam inveja ao efeito borboleta. Saindo de casa atrasado, um caos na barca pra pegar só a segunda. Entrei e fui recepcionado por um menininho pedinte, que me xingou muito só por não contribuir. No final da viagem, desci do ferry com tampinhas de garrafa sendo arremessadas nas minhas costas. Por não ter feito nada, juro.

Depois da reunião com a coordenadora, tentei em vão pegar um ônibus pra Ubungo, onde se localiza o terminal rodoviário pra comprar a passagem pra amanhã. Desisti e fui almoçar na universidade conectada à AIESEC. Após o rango, um camarada da organização que eu não conhecia se apresentou e não só sugeriu que comprasse a passagem num local bem mais próximo como me levou lá e fez a compra pessoalmente, pra garantir que não cobrassem preço de Mzungu.

Tudo certo pra sair da casa amanhã às quatro da manhã. Neste momento, preciso de um milagre pra fazer todas as roupas entrarem ordenadamente no mochilão. Na bagagem, muita saudade e conhecimento adquirido nesse tempo todo de Tanzânia. Destino: Moshi. Objetivo: Meditar ao pé do Kilimanjaro. Bons ventos pra mim!

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