quarta-feira, 6 de março de 2013

Ordinary Day


Fui conhecer os alunos do Kenton (novo colégio) hoje. Chegando lá, ninguém nos aguardava. Os alunos estavam todos ocupados e o cidadão responsável por deixar tudo esquematizado não comunicou ninguém. Sem alternativa, recorremos à direção, que avisou que nada poderíamos fazer a não ser começar as aulas na sexta-feira sem aviso prévio. Assim será.

Saindo do local, nos dirigimos ao Al Faruq, colégio/orfanato muçulmano, pra lecionar (e aprender com eles) às três horas da tarde. Como os alunos estão no período pré-prova, algumas aulas extras foram arranjadas no mesmo horário da minha aula. Obviamente preocupados com resultados de exames e notas, os alunos “optaram” por assistir às aulas preparatórias pros testes.

A quarta-feira se encaminhava ao fracasso, não fossem quatro acontecimentos espetaculares e nem um pouco planejados que fizeram desse dia uma aula de vida. Enquanto eu esperava o “começo” da minha aula, aguardando um quórum mínimo de alunos pra valer a pena, conversei com algumas meninas do orfanato muito simpáticas. Como estava esperando os alunos voltarem do almoço, perguntei se elas tinham almoçado e obtive como resposta um: não temos dinheiro pra almoçar, só pra jantar.

Em segundo lugar, chamei um aluno extremamente interessado e aplicado nas aulas de Direitos Humanos pra uma conversa particular. Disse pra ele que era um dos meus melhores alunos, que ele continuasse nessa pegada porque iria longe e me coloquei à disposição dele pro que fosse necessário. Sareem me agradeceu o apoio confessando que queria ser advogado assim como o pai, que faleceu defendendo os direitos de outra pessoa. Esse é o caderno dele.

Depois, fui semifurtado quando subia no Dela-Dela. Não vou explicar muito agora porque quero falar da violência no blog amanhã. To bem, o ladrão não levou nada de mim, apenas uma provável surra dos populares que testemunharam a tentativa de furto do rapaz. Não concordo com essa técnica e não vi acontecendo, mas espero que ele não tenha apanhado. Agora, tentativa de assalto pra cima de moi? Malandro é malandro e mané é mané.

A última experiência desse dia imprevisível foi ter feito um Rafiki (amigo) de Malauí no transporte de volta pra casa. Ele contou que veio pra Dar Es Salaam fazer um curso de acrobacia, já que estava se formando na cidade natal em arte e acrobacias. Seu sonho era ser do circo. Com um inglês impecável, me explicou que na língua natal (Chewa), não existem números. Então as crianças aprendem o idioma desde cedo pra poder fazer cálculos. Incrível.

Não é só na África que existem milhões de oportunidades de fazer de um dia arruinado uma oportunidade de aprendizado. Todo dia passamos por situações negativas e prestamos mais atenção em todo o mal, perdendo inúmeras chances de agregarmos ou sermos agregados por outras pessoas e fatos. Vamos abrir os olhos?

2 comentários:

  1. Bruno

    Parabéns pela iniciativa , muito bom e aos poucos está me despertando a curiosidade .

    Sucesso e sorte por aí.

    Abraços

    Rodrigo Lindenblatt
    FLAMENGUISTA

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    1. Valeu Lindenblatt! Que bom cara! Qualquer dúvida aí estou à disposição pra gente trocar uma idéia depois!

      Saudações rubro-negras! Sucesso pra você também! Abração!

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